quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

A solidão é das piores coisas que existem...

Pois é. É um problema muito actual, a solidão na velhice.

Oh, não, estás enganado, não é só na velhice. É um problema dos novos também.

Como assim?

É verdade. Acho a população jovem adulta muito só. Estabelecem poucas relações, ou muitas mas pouco profundas. O que dá uma sensação de grande solidão. Bom, na generalidade dos casos, claro.

Sim, isso talvez seja verdade.

Precisamos uns dos outros. Não entendo esta tendência actual para negar isso.

Achas que há essa tendência? Bom, a verdade é que tens de gostar o suficiente de ti e de saber estar sozinho. Ou saberes quem és, independentemente dos outros.

Isso não existe.

Como não? Eu sou eu, não dependo de ninguém para ser eu.

Não é verdade. Tu és muitos eus. E não eras ninguém sem os outros, creio. A imagem que tens de ti vai-se formando com os outros, e não como algo à parte. Tu é que entendes como algo à parte, senão dar-te-ia uma sensação insuportável de falta de identidade. É assim, pelo menos no mundo ocidental actual.

Não entendo o que dizes. Eu sou eu, disso tenho a certeza. E não preciso de ninguém que me diga quem sou. Na verdade, pensando bem, não preciso de ninguém. Viveria bem sozinho.

Sorte a tua. Quando fores velho não terás problemas de solidão...

7 comentários:

Anónimo disse...
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Anónimo disse...

Conheço várias pessoas que poderiam assumir as posições das personagens desta conversa. Mas sobretudo conheço as que estão "no meio",isto é, as que, considerando a solidão um problema (basta ver a infindável lista de gente que, na net, procura alguém com quem falar!)acham que nunca virão a ser atingidas. E se forem...é na velhice...(será?)e então...logo actuarão...(como?)
Este tema prende-se e faz-nos pensar em alguns outros já aqui abordados noutras conversas: a capacidade de amar e de ser amado; o prazer de dar e de receber; a tristeza de estar falsamente acompanhado; a alegria de partilhar projectos...
Saber estar sozinho (e às vezes até apreciar, é bom. Darmos conta de que estamos "sós", é horrível.
Manter relações afectivas estáveis e duradouras é difícil porque exige que se dê; que se abra as portas a projectos comuns; que se incluam naturalmente os outros no nosso caminho; que se tenha a coragem de desistir quando é preciso(com sofrimento, quase sempre)...e recomeçar!
Mas não vejo forma de escapar à solidão!

Anónimo disse...

Na frase final do meu comentário, onde se lê "...não vejo forma de escapar à solidão" deve ler-se "...não vejo outra forma de escapar à solidão".

Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva disse...

Sara disse: "Manter relações afectivas estáveis e duradouras é difícil porque exige que se dê; que se abra as portas a projectos comuns; que se incluam naturalmente os outros no nosso caminho; que se tenha a coragem de desistir quando é preciso(com sofrimento, quase sempre)...e recomeçar!"

Concordo com tudo isso, mas.

A 'coragem de desistir' é mais complexa, porque não depende nunca só de uma pessoa e afecta muitas vezes muitas outras.

E 'recomeçar' nem sempre é fácil. Em termos de afecto, uma pessoa é como um terreno agrícola: gasta-se. E não foram ainda inventados adubos afectivos.

Anónimo disse...

Concordo totalmenete, Rodrigo, "desistir" e "recomeçar" são tarefas difíceis. E ainda que se continue a defender o modelo, quantas vezes "coragem de desistir" não se transforma na "coragem de aceitar"?
E o "recomeço", ah! claro, a terra vai ficando mais fraquinha e com muito menos resistência. Já não é mau termos consciência disso, para não a sobrecarregarmos com sementes inadequadas.

ZeTomes disse...

Então e achas que somos casmurros cá entre os dois...?

depende do teu ponto de vista, de como definas casmurrice

então vamos supor que casmurrice é uma espécie de se querer agarrar a alguma coisa sem a largar

nesse contexto posso dizer que sou, mas presumo que quisesses ter dito: agarrares-te a algo afincadamente e noutras coisas seres um mãos moles

Estamos perante um D. Casmuro portanto. Pergunto-te então, porque um D.Casmurro se auto-intitula de Don?

Penso que seja uma âncora, ou pelo menos ele pense ser uma na sua vida, algo que ele sinta ainda não ter sido roubado.

Poderá um D.casmurro ser alguém frágil que demonstra hostilidade porque tem medo de perder a sua âncora?

Creio que sim, comigo passa-se isso, então Casmurro implica outrém que eventualmente roube, ou será que é uma alergia do casmurro ou um eco do passado por ter sido tantas vezes roubado quando era ainda um verde Casmurro?

Certo ou errado ou assim assado

Estás a ser casmurro?

Estou a pensar na solidão e isso leva-me a ser casmurro, para além de sentir haver a necessidade de ter que ser casmurro, porque as pessoas não se fiam, vão atrás de prazeres e ficam viciadas.

Um solitário é um casmurro com medo que lhe roubem a identidade?

Não posso falar pelos outros

Pensas que um diálogo entre duas personagens fictícias te ilude a solidão?

Penso mais que as pessoas são necessárias às outras e confundem-se com coisas e vão atrás da sua burrice, mas sei que independente de ser ou não um diálogo fictício ajuda-me a fluir o raciocínio.

E a criação, é um diálogo fictício?

Se formos para lá as maluquices do Nietzche, sem arte não existiria máscara capaz de suportar a tragédia humana, logo é indispensável.

Mas a criação e mesmo o nosso diálogo estão para uma plateia, não será essa a manifestação de que as pessoas precisam umas das outras mesmo em linguagem casmurra, e portanto o eu e os outros precisam mais da comunicação do que da ficção em si?

...

ZeTomes disse...

E se vocês deixassem de argumentar o que já foi argumentado há milénios e pirronicamente ao ponto de se tornar dogma?

E se o diálogo em si for a demonstração expressiva dessa mesma comunicação, podendo cada um utilizar as formas que mais lhe forem adequadas?

Presumo que por vezes, por existirem tantas formas, a comunicação não seja feita correctamente.

E quando a pessoa não saiba o que há de comunicar, quando se sinta um piolho inexpressivo incapaz de ser digno de algo?

Pode tornar-se um casmurro

Espera, antes da letra, do traço do grito donde vêm as coisas, esse tal impeto de comunicar, ou melhor, que forma lá está que rebenta com as formas ambíguas?

Arlequim: eu cá sei, tenho estas mãos o nariz, os lábios, a líbido

Conta-nos lá Arlequim ou condor amarelo como te chamam, e isso não nos torna uns meros seres biológicos desprovidos de intelecto ou alma

Arlequim: Senhor retórico, não terá percebido que me referia ao tacto e esse vem do intelecto para a sensação e daí há faísca e comunicação e tudo isso quase duma forma telepática não fosse a vontade de quem toca a de tactear