Já ouviste falar das bonecas que imitam mulheres?
Todas as bonecas imitam mulheres. Ou meninas.
Não, mas estas não só imitam visualmente, como também no toque, e até na forma como reagem. Estão a aperfeiçoá-las para se parecerem cada vez mais com mulheres reais. E são compradas por homens. Uma onda que começou na China. Há homens que até coleccionam, levam-nas para a natureza, tiram fotografias…
Tiram fotografias?!
Sim. Constroem uma relação com elas, a todos os níveis. Não só sexual, mas parece que também emocional. Ligam-se às bonecas, dão-lhes afecto, e recebem. Ou fingem que recebem.
Oh coitados, como andam as coisas na China…Tiram fotografias?!
Achas que por cá está muito diferente?
Bom, não existem estas bonecas. Os homens continuam a dar-se com as mulheres reais.
Tens razão, bonecas ainda não vi. Destas, pelo menos. Mas isso de se continuarem a relacionar com mulheres reais…uma solidão que eu vejo…desculpa a repetição do tema, é que repetir coisas estrutura. Dizem os peritos que é na repetição da história em vários contextos que ela se vai consolidando. E temos de agir consoante a nova história, também. Mas também, porque quero eu consolidar ideias sobre a solidão dos humanos? Desculpa, lá estou eu a meter conversas dentro de conversas. Há momentos em que pululam. As ideias. Tenho a certeza que vi a palavra pulular há pouco tempo, mas não me lembro onde. Não é palavra minha. Vamos continuar directamente com o tema inicial, esquece esta parte se quiseres. Conheço cada vez mais mulheres a dizer que os homens não têm o que lhes interessa, e os homens a queixar-se das mulheres, e sem saber como dar-se com elas. Mas todos à procura uns dos outros.
Humm. Sim, tudo isso é muito estranho. Mas sabes o que mais me choca? As fotografias…
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3 comentários:
Na medida em que amor é posse de outra pessoa, todos queremos uma boneca.
Na medida em que amor é respeito e amizade, penso que preferiremos uma pessoa.
Mas as pessoas apaixonadas querem TER a outra.
Acho que é impossível estar apaixonado sem querer mudar o outro. E querer mudar o outro é fazê-lo parte de nós, moldá-lo, fazê-lo boneca.
Horrível, não é? Só aceitamos o outro e o consideramos pelo que é quando a paixão já passou.
Pois é horrível. Mas estava aqui a pensar, e acho que não é bem assim. Quando estamos apaixonados não precisamos de mudar o outro. Quer dizer, moldamo-lo na nossa cabeça, fazêmo-lo corresponder imediatamente a uma imagem que temos, mas ele pode ser o que quiser, ter os defeitos que quiser, as qualidades que quiser. Vamos sempre achar que é a nossa boneca. E nesse sentido, têmo-lo. Realmente não gostamos dele pelo que ele é, mas sim por uma imagem distorcida - a da nossa boneca.
E quando a paixão desaparece...pois, ou aceitamos e consideramos, e isso implica não o "termos", ou termina. Esse luto entre a boneca e a pessoa real é, parece-me, mesmo difícil de fazer, embora não perceba porquê nem para quê. Porque nos custa tanto?
Depois disso, é uma luta para ver quem é o melhor.
Por fim, que limites existem para essa aceitação? Ou seja, imaginemos que damos conta que a boneca não tem NADA a ver com a pessoa real. Que amamos essa pessoa real - gostamos dela pelo que ela é, individualmente, sem nós, e nós sem ela. Aprendemos, não sei como, a fazê-lo. Mas sabemos, racionalmente, que essa pessoa não tem nada a ver connosco. Como se soubéssemos que se ultrapassaram alguns limites nessa possibilidade de seres. Dito mais simplesmente, racionalmente não gostamos dessa pessoa, mas aprendemos a gostar dela assim. Como sabemos quais são esses limites?
Reparem como somos diferentes: passava pela cabeça de alguma mulher ter um boneco?
Com franqueza, perturbou-me a notícia, mas não fico espantada. Ficaria, sim, se as mulheres também (já) tivessem aderido...Elas brincam com bonecas (os), na idade própria...
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