terça-feira, 18 de março de 2008

Não toque aí que me dói.

Pois é assim mesmo, tem de doer para curar.

Oh, não se lembra daquela história da mãe que pôs álcool nos olhos da filha para curar e ela ficou cega?

Sim. Temos de saber bem o quê para o quê.

Mas aqui não sabe. Nem sabe bem o que tenho. Duvido até que possa saber exactamente algum dia. Ainda que entenda bem…não é a minha pessoa. Engraçado, falava ontem disto.

Por isso a palpava levezinho.

Pois, mas sabe, do que precisava era de um apalpão daqueles…talvez me desengonçasse um bocado e tudo se rearranjasse depois por si. Quer dizer, por mim.

Mas se lhe fizesse isso ainda doeria mais!

Tem razão, não sei o que quero. Nem sei bem o que quero com este texto. Acabemos.

Estás a cortar comigo?

Interessante, passámos à 2ª pessoa. Porque te disse que queria terminar tudo. Não chores, passarinho…quem deveria chorar era eu, que tenho aqui esta dor…

Eu é que tenho dores…insuportáveis. Mas não, aguento-me aqui sem mais nada. Sou ou não corajoso? Mas tenho esta dor…insuportável. Mas não me queixo. Uma dor insuportável. E nada, nem um piar. Só esta dor insuportável.

Corajoso, tu? Tu és é…insuportável.

6 comentários:

Ruben disse...

... Que pena!

Parece que ambos sentem uma dor, vinda não interessa de onde. Podemos partilhar tanta coisa e por que não a dor?

No geral partilhamos coisas agradáveis...

mas haverá algo mais profundo que a partilha de uma dor que nos molesta?

Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva disse...

Texto muito bonito sobre o desentendimento. Pois é, muitos de nós não conseguem exprimir a dor. Querem que os outros a intuam e a percebam sem a exprimir. Outros estão à vontade para a exprimir.

Pessoalmente, não gosto de exprimir dor por palavras. As palavras traem, enganam e levam-nos para longe do sentir que lhes deu origem.

O que leva ao problema que está no texto: como compreendem os outros, que não são 'eu', o que o eu sente?

Voltamos aos gatos, que são felizes sem palavras. Mas são felizes no mais completo hedonismo egoísta.

O mesmo o cão que se nos entrega completamente: é porque lhe dá prazer ter o afecto do dono.

Falar sobre dor... falar sobre amor... A linguagem não serve para isso. Serve para dizer que acolá, por detrás daquele monte, há caça; para dizer ao outro: vai por ali, que encontras água; ou, encontramo-nos em X às Y horas.

Mas dizer que a minha dor está na solidão ou que me doi por causa de ti, isso é quase sempre falso.

'Não chores, passarinho': comoveu-me.

Finalmente. Não, não tem nada que ver com coragem. Apenas com dificuldade de expressão ou com pudor.

Anónimo disse...

A questão de racionalizar ou não o que sentimos é complexa...
Na realidade, se por vezes nos ajuda a sofrer menos, noutras, concretiza demasiado o problema e fá-lo avolumar-se... falar ou não falar...acho que se deve deixar ao critério de cada um, mais ainda, de cada momento... uma questão de gestão... nem sempre, nem nunca...

Anónimo disse...

Não chores passarinho... também gostei desse momento de ternura (bem pictórico... um olhar e um braço à volta dos ombros com as faces juntas).

Anónimo disse...

O que penso que a última pessoa achou insuportável, foi o facto do outro dizer, mas não dizer...Achar-se corajoso, e forte, e não perturbador do outro, mas no fundo ser ainda mais perturbador. Compreendo que nem sempre se diga, nem tudo se diz. Mas então não se diz mesmo. Porque a tensão do dito não dito é do pior que há...

joana pais de brito disse...

abaixo o dito não dito!