quarta-feira, 5 de março de 2008

Sinal

Dr., aconteceu-me uma coisa estranha.

Diga diga. Mas vá subindo aqui para a balança.

Despida?

Sim, despida.

Lembra-se daquele sinal? Aquele...

Humm, está mais pesada. Bom sinal.

O outro sinal. Aquele que foi crescendo, crescendo...

Sim sim.

Pois aconteceu-me uma coisa muito estranha.

Hummm. As análises também estão boas.

Desapareceu.

Como desapareceu?!

Desapareceu, Dr. Não sei como. Acordei e ele já não estava lá. Foi terrível.

Terrível? Mas isso é óptimo! Não terá de fazer aquela intervenção...

Oh não, eu não a iria fazer...passei a amar o meu sinal.

Não a estou a entender.

Descobri que o amava. Foi um processo longo...e agora este luto...

Isso é bom sinal. Talvez. Que o tenha passado a amar. Ao sinal.

Sim. Odiei-o um dia. Como sabe...

Oh sim, se sei. Até lhe disse na altura que era disparatado, no fundo até era um sinal bonito.

Bonito não era. Era feio. Nojento para alguns. Lembra-se como não podia mostrar o meu pescoço...Pois bem, agora andava sempre de cabelo apanhado, como que a exibi-lo.

Faz bem, tem um pescoço lindo.

Mas e agora? O que faço? Será sinal de alguma coisa?

4 comentários:

Anónimo disse...

Como calculei, este texto suscitou menos comentários...resta saber se é porque não gostaram, ou por outra razão qualquer.

Não gostaram?

Beijinhos

Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva disse...

Achei o texto intrigante, mas não quer dizer que não tenha gostado.

É intrigante porque é diferente dos anteriores.

Mas até acho que compreendo o que lá dizes. É um texto, vendo bem, bastante profundo.

Se compreendi bem, é até trágico: amar o que somos, mesmo quando sabemos que não achamos bonito o que vemos.

Em desespero de não ter a quem mostrar, vêmo-lo nós próprios.

É um dos processos de crescimento: quando vivemos um bocadinho mais para nós do que para os outros.

Para falar verdade, à segunda leitura, comoveu-me.

Anónimo disse...

Gostei do texto. Gostei dos sinais que dás!

Mas de um modo geral, gosto de sinais. Refiro-me àqueles que nos mantêm num ambiente de semi-mistério,pelo gozo do jogo sem vencedores nem vencidos. "Não sei se percebi bem...acho que sim...". E a tensão vai subindo.
Quando não é bem assim, temos, por ex., os sinais que só são utilizados pelo medo de se ser claro. E se há medo, é porque a coisa não é famosa...Esses, não têm mesmo graça nenhuma, e cada vez tenho menos paciência para os aturar.

Anónimo disse...

É lindo este texto e muito profundo. A Inês sabe bem como chegar ao coração das pessoas e diz as coisas certas de uma forma, ao mesmo tempo, tão simples e tão profunda!

Beijinhos,
Inês