quarta-feira, 12 de março de 2008

Do que é que gostas mais na vida?

De algumas coisas.

Por exemplo?

Gosto de pormenores. Apesar da minha tendência de olhar para o todo.

Pormenores? Como assim?

Gosto do cheiro dos livros, por exemplo. Sempre gostei. Mas agora gosto mais.

E mais?

Gosto de alguns sons. Gosto de lençóis lavados, do frio dos lençóis, e sentir-me a aquecer neles lentamente. Gosto do barulho da máquina a lavar a loiça. Gosto do camião do lixo a passar àquela hora. Gosto de marcas no corpo, daquela marca de quando caí quando tinha 3 anos e ficou no meu joelho. Olho para ela de tempos a tempos. Gosto de conduzir. Gosto de pianos. Gosto de repetir palavras. Gosto de algumas fotografias. Como aquela em que me apanhaste a rir desalmadamente.

Oh, essa fotografia está tão gira.

Não, gira não.

Que chata com os termos. Pronto, genuína.

Que é feito dela?

De quem?

Da fotografia.

Está no armário, onde querias que estivesse?

Podes procurá-la?

Não posso…e tu tens tão pouco que fazer. Faz isso por ti.

9 comentários:

Anónimo disse...

Alguns gostos "simples" que partilho convosco, como comentário ao texto da Inês:
Gosto de sentir-me prestes a entrar em casa. Gosto de preparar o chá para bebermos ao serão.Gosto de cozinhar uma boa refeição. Gosto de começar a ler um livro. Gosto de olhar para as mãos do homem que amo. Gosto de imaginar cenários, ainda que totalmente irrealistas. Gosto da tensão que antecede um encontro há muito esperado...
Gostaria, Inês, que procurásses mesmo a fotografia. Estou certa de que a vais encontrar muito rapidamente.

Anónimo disse...

Mmm... post de gata. (o post, não o comentário).

Gosto de sentir o corpo no colchão quando acordo. Gosto do som a reboar na igreja. Gosto do verde dos plátanos a filtrar o sol. Gosto de me comover olhando sem participar. Gosto do mogno a brilhar ao sol do fim da tarde.

Gosto da beleza das coisas que não sabem que a têm.

Gosto do silêncio. Gosto da solidão. Gosto de fechar os olhos e sentir apenas.

Gosto da chuva a cair nas folhas das árvores e de quando a natureza tem frio.

Gosto de pensar que não há nada depois da morte.

joana pais de brito disse...

não me apetece dizer do que é que gosto...apetece-me antes falar dos armários.
Sem grandes demoras(simplex, já sabes como é).
Apenas dizer que são sítios maravilhosos para encontrar coisas, para esconder coisas, e sobretudo, para arrumar. Porque tudo pode estar uma confusão, mas é sempre possível arrumar um armário.

(Ah...alívio, ao menos isto está em ordem)

Anónimo disse...

É verdade, os armários...as gavetas, tudo tão arrumadinho. Mas não tens aquelas alturas em que até está tudo arrumado e não está, e deitas tudo cá para fora outra vez e voltas a arrumar de forma diferente? E enquanto está tudo espalhado, que sensação tão boa e tão má ao mesmo tempo...

joana pais de brito disse...

em verdade...a sensação de esvaziar o armário é bem melhor do que aquela parte
do dobrar,
do pendurar...
mas é uma sensação breve de liberdade e caos textil...

Ruben disse...

Adorei o caos têxtil!

Sim, nunca tinha pensado nos armários...! Algo tão banal (todas as casas têm)e tão íntimo, não è?!

Quando era pequeno era um dos meus cantinhos no jogo das escondidas, portanto serve, também, para esconder pessoas! E acho que, mesmo não estando dentro, diz muito de uma pessoa (não vale os armários arrumados pela empregada), não estamos lá escondidos, mas a verdade é que se víssemos os armários de quem conhecemos ficaríamos com uma imagem diferente (ou adicional) delas...
...Esconderá, assim, a pessoa? Bom, certo é que o seu conteúdo vai saindo aos poucos... mas, não é o mesmo, pois não?

O meu, confesso, está uma confusão, apesar de organizado para outros, para mim... hum... digamos q ainda não me conveceu.

Acho que vou seguir a pista... desarrumá-lo...! e depois ver se ganha forma, outra forma.

...BOOOM... caos têxtil...

... Oops!...

Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva disse...

Os armários e as gavetas. Há quem feche as coisas em gavetas; há quem tente esvaziá-las. Há quem tente deitar fora o próprio armário, mas fica sempre uma marca na parede.

Sou mau com metáforas poéticas. Mas nunca nada sai, nunca nada se deita fora. Podemos ignorar, podemos fingir que lá não está.

Eu não deito nunca nada fora. As 29 gavetas das minhas secretárias estão completamente cheias. A minha memória está também cheia.

A memória é a nossa identidade. O que somos, o que não queremos ser.

Não vale a pena desarrumar: é preciso aceitar.

Anónimo disse...

Claro que é preciso aceitar, mas às vezes para aceitar é preciso rearrumar, não será? Estamos sempre a rearrumar. Bom, alguns de nós. E a nossa identidade vai mudando, apesar do conteúdo da gaveta ser o mesmo. E claro, vão-se acrescentando novos conteúdos...

Eu também guardo tudo. Ou acho que guardo tudo. Mas pelo menos não faço um esforço para deitar fora. Embora às vezes bem apeteça.

E respondendo ao Ruben, por acaso às vezes acho que os armários das pessoas enganam (os armários no sentido literal da coisa...). Ou então, dito de outra forma, temos de ser inteligentes a olhar para eles...Muitas vezes enganam os próprios, mesmo.

Bom, espero desta vez ter correspondido aos desejos de alguns de uma lógica mais explícita. Embora não queira explicar o meu próprio texto. São considerações à parte.

Ruben disse...

Acontece-me um fenómeno engraçado, rodrigo, quando coloco na gaveta, ou no armário, envio em simultâneo uma mensagem à minha memóra: "descansa... está já em sítio seguro, para q não te esqueças dela".