quarta-feira, 7 de maio de 2008

Sobe sobe, balão sobe

Começa a encher.

Mas de quê?

Sei lá, do que quiseres. Se não tiveres mais nada, enche de ar.

De ar?!

Sim, como se fosse um balão. Sopras bem. O que importa é que fique bem cheio. Vais logo sentir-te melhor.

Estás a comparar-me com um balão?

Mas quantas pessoas não estão cheias de ar? O que importa é funcionar.

Não acredito que funcione.

Depende do que entendes por funcionar. Se quiseres sentir-te apenas cheio de qualquer coisa, funciona. Não penses muito. Só tens de ter cuidado para não rebentar. Arranja um plástico forte que não rebente facilmente. Com sorte, consegues sobrevoar sobre os outros. Sentir-te-ás acima. Ficarás, talvez, um pouco arrogante, faz parte do processo, assim consegues manter o balão cheio durante mais tempo. E admira bastante o teu balão. Admira-o, admira-o…e sobre o balão dos outros, nunca digas bem. Proibidos elogios. Desculpa, mas as metáforas são das formas mais claras de expor assuntos. E parece que funcionam muito bem. Chegam mais às pessoas. Dizem. Assuntos terapêuticos ainda muito por explorar.

Gostava de encher com algo mais substancial do que ar. Deve ser mais difícil rebentar, não?

Sem dúvida. Mas é um processo muito mais complicado, exige muito de ti. Este que te digo é simples e rápido. Basta seguires os passos. Também ajuda se nas tuas relações familiares e outras preferenciais tiveres sido pouco valorizado. Assim não poderás dar, o que torna tudo mais fácil. Finges que dás. Mais uma forma de te defenderes, para que não rebente.

Porque não posso dar?

Só pode dar quem recebeu e por isso aprendeu. Teve bons modelos. E quem está cheio, mas de outras coisas. Os outros são fortes fracos, entendes? Acho que há muitos. Dão-se bem, aparentemente. Mas é o que interessa. As aparências.

2 comentários:

Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva disse...

Quando o balão está cheio de ar anda aos saltinhos, porque não pesa quase nada;

quando está cheio de hélio, sobe, sobre e rebenta;

quando está cheio de qualquer coisa mais sólida não se mexe.

Como é para ti, o segundo andamento do opus 111 é sobre isso mesmo.

No fim desaparece o balão.

Anónimo disse...

Isso quer dizer que não há saída?