terça-feira, 27 de maio de 2008

Insignificâncias

Amiga, és mesmo tu?

Ohhh, já não estava à espera de te encontrar! Como estás? Estás igual…

E tu! Tanto tempo…

Pois é…tens de me contar como fazes!

Como faço o quê?

Como fazes para te manteres assim.

Assim como?

Nessa calma, com o mundo todo neste estado à nossa volta.

Ooooh, nem sempre foi assim, é um processo. Envolve esforço. Mas vale a pena. E não penses que é sempre assim, como disse no outro dia a alguém, há dias de fugir.

Controlas-te?

Controlo. Mas não por simples necessidade de controlo. Faço-o por mim, verdadeiramente. Muito conscientemente. Não quer dizer que controle todos os meus impulsos. Controlo um pouco mais o que sinto. Uma sensação de liberdade...poder escolher um pouco o grau com que as coisas me afectam. Porque algumas não valem mesmo a pena.

E destas chatices, como saíste?

Depende do que quiseres dizer por sair. Ainda lá estou, suponho. Para que não se apoderem, ridicularizo.

O quê?

As chatices. Os meus defeitos. Os defeitos dos outros. Comportamentos tristes. Nada de muito importante. Se virmos bem, insignificâncias.

Deixas de sentir?

Pelo contrário. Sinto só de forma diferente. Cada coisa em seu lugar. Alegria e tristeza pelo realmente importante.

Mas é a tua vida…como podes dizer que não é importante?

A minha vida?! Não…acho que ninguém chega ao fim da vida e pensa que isto foi a sua vida. Estes problemas. Ainda que soframos com eles, claro, não estou a invalidar o sofrimento. Mas se for isso que vier à cabeça…

E o que achas que vem? À cabeça.

Eu espero lembrar-me do cheiro da casa dos meus avós. Da tranquilidade dos serões lá passados. De como nos divertíamos ao vir da escola. Das janelas da minha casa em que entra tanto sol, e que boa sensação a de adormecer nesse torpor. Daquela paixão que tive e de escorregar pela parede a chorar como nos filmes. E de quando nos empanturrámos de crepe com chocolate. E de…

Engraçado, coisas pequenas de que te lembras.

Pequenas?!

6 comentários:

Anónimo disse...

Continue por favor a escrever desta maneira. Correndo o risco de me repetir, estou sempre atento a novas escritas suas não comentando apenas por não se me oferecerem grandes dúvidas de que é em dúvida permanente que reflicto as temáticas.
Deuses de pequenas coisas ou pequenos homens, parece-me o tom da conversa, não de insignificâncias..

Filipe Sá

Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva disse...

Muito profundo, muito bonito. Um poema em prosa.

Mas eu tenho 50 anos e podia ser teu pai. Que eu seja nostálgico e como o opus 116-118 é normal. Mas tu?

Anónimo disse...

Filipe, obrigada por correr o risco.

Pequenas ou grandes coisas (e homens, tem razão), penso que nos cabe a nós dar-lhes ou tirar-lhes significado. Pequenas significativas, grandes insignificantes...

Para responder ao Rodrigo: o tom não é nostálgico (apesar de eu às vezes o ser). Nostalgia implica vontade de lá voltar, e não é o caso. Apenas a sensação tranquila de se ter vivido pequenos grandes momentos.

Obrigada pelos comentários.

Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva disse...

Nostalgia foi mal escolhido - Outonal, como o Brahms que tocaste há pouco tempo.

Anónimo disse...

=) Como foi bom ler algumas passagens do seu blog, esta principalmente. A vida é feita de pequenos grandes momentos, em que somos abençoados com um sorriso, em que estamos com uma pessoa especial, em que nos sentimos plenamente felizes, em que lemos textos como este... e em tantos outros. Também acho que o triste e o alegre, depende da forma como olhamos para as situações. Hoje sinto que todos os momentos são uma magnifica oportunidade de melhorarmos algo na nossa vida, de escolhermos como a queremos viver e o que queremos ser em relação a esses momentos.
Obrigada Inês, por tudo, por me ajudar a conhecer o melhor de mim, por ser uma pessoa fantástica!

Beijinho,
Inês

Anónimo disse...

Obrigada Inês, pelos comentários aos textos e à minha pessoa. Fico realmente contente por a ter ajudado.

Beijinho,

Inês