sexta-feira, 25 de abril de 2008

(Re)criar o fado (clique aqui)

Tenho pensado um pouco sobre esta minha necessidade.

Qual?

De perdoar.

A quem?

Em geral, de perdoar. Em última instância, a mim. Ou em primeira, agora que falo sobre isto.

De te perdoares a ti? Porquê?

Pelas minhas escolhas. Pela minha vida. E de perdoar a todos os que creio me terem feito mal, de alguma forma. No fundo, perdoar o passado. Tenho-me perguntado se esta minha necessidade será apenas uma herança cristã. Custava-me a crer que fosse apenas isso. Embora sejamos imensamente influenciados, claro está.

Hum. E achas que não é?

Acho que não. Outro dia, em conversa, por sinal bastante terapêutica, com alguém, dei conta que talvez isto tivesse a ver com a minha necessidade premente de liberdade.

De liberdade?! Como assim? Engraçado falares disso neste dia.

Pois é. Se calhar não é por acaso. Que me assaltam estas ideias, hoje.

Mas diz-me, liberdade como?

Para seguir em frente sem estar agrilhoada a um passado. Para que essas pessoas, essas escolhas, esse passado, essa pessoa que fui, não constranja demasiado quem serei no futuro. Nunca entendi completamente a necessidade, por parte dos que sofreram crimes, de perdoar os que os cometeram. Até hoje. A palavra necessidade é bem empregue.

Isso significa esquecer? Esquecer a história?

De todo! Pelo contrário. Implica tomar consciência dela. Sem isso não há perdão possível, tratar-se-á de outra coisa.

Será que isso se passa também ao nível, por exemplo, de um país? Perdoar a sua história para poder construir outra? Para que ela não tenha demasiado poder? A história, digo. E se perde poder, não poderemos cair no erro de deixarmos que se cometam os mesmos crimes, as mesmas escolhas?

Acho que não, se conscientes do poder que tiveram. Mas isso são muitas perguntas. Tens de escolher a melhor. Ou melhor dizendo, a que preferires neste momento.

6 comentários:

Anónimo disse...

Minha querida:
Há já um certo tempo que quero comentar o teu blog. Devo confessar que me tornei leitora assídua e que me delicío com o que escreves. Confesso ainda que vir ler-te se torna MUITO terapeutico para mim. Quando todas as vozes apoiantes se calam e já é suposto ser primavera, é bom conseguir escutar os murmúrios que cantam cá dentro.

Para além de tudo mais, obrigada pelo que escreves

Muitos beijinhos

Anónimo disse...

Como surpresas destas nos podem deixar tão contentes...como eu fiquei agora ao ler o teu comentário...

Obrigada eu. Mesmo.

Muitos beijinhos

Freud Ido disse...

Absolutamente fã.

Parabéns. Foi-me vivamente aconselhado passar por aqui e depois de várias leituras não resisti a congratulá-la.

Entre a pertinência e a criatividade fascina-me essa coisa estranha chamada terapia.

De facto, as postagens suscitam conversas internas e vejo-me obrigado a um intervalo para reflexão.

Este post identifico-o um pouco com Voyeurismo passivo dos nossos traumas e uma proposta de libertação possível, mas talvez ainda não tenha finalizado a minha conversa interna.

Continue o seu trabalho exepcional, em mim terá sempre um ávido leitor.

Melhores cumprimentos,

Filipe Sá

Anónimo disse...

Obrigada Filipe. Fico contente, não só por ter gostado, mas também pelo facto de alguém o ter aconselhado a visitar-me. É muito gratificante.

Apenas um comentário ao seu comentário: compreendo quando fala de voyeurismo passivo, porque de facto há algo de "aceitante" no que digo. Mas creio que a própria aceitação é um processo activo...não será?

Mais uma vez, obrigada pelo seu comentário!

Anónimo disse...

Há certas fases da vida em que o desejo/necessidaade de paz passa pela necessidade de perdoar. É verdade. Para esquecer a injustiça, curar a ferida, acabar com o sofrimento...Referindo-me apenas a situações "controláveis", direi que o que me custa mais é perdoar-me. Porque é que deixei?

Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva disse...

Acho que esse necessidade de perdão é uma sede de ternura.