Então, o que me traz hoje?
Nada.
Como assim?
Hoje estou vazia. Ou então demasiado cheia. Não sei.
Cheia de quê?
Cheia de coisas. Ideias que não interessam a ninguém, muito menos a mim mesma. Saltam imagens. Hoje sonhei que estava nos jogos olímpicos.
Em que modalidade?
Salto em comprimento.
E ganhava?
Não me lembro. E a Dra está muito competitiva! O que interessa não é concorrer? Era um grupo grande de concorrentes. Alguém discursava. Abaixo o capitalismo! Lembro-me desta frase. Resquícios provavelmente da noite anterior. E de repente salto para outro sonho, com a mesma frase. Paz. Inter-ajuda. Respeito pelo outro. Amor. Que mundo o de hoje, mundo cão, egoístas que são as pessoas, ninguém dá nada a ninguém, ninguém quer saber de ninguém, ninguém se preocupa com ninguém, ninguém ama ninguém. Fiquei empolgada.
Quem falava nesse novo sonho?
Alguém que era a mistura de meus conhecidos. Fui falar com ele no final.
E como foi a conversa?
Não houve conversa. Bom, assim o entendi. Disse-me que não tinha tempo.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
sexta-feira, 25 de abril de 2008
(Re)criar o fado (clique aqui)
Tenho pensado um pouco sobre esta minha necessidade.
Qual?
De perdoar.
A quem?
Em geral, de perdoar. Em última instância, a mim. Ou em primeira, agora que falo sobre isto.
De te perdoares a ti? Porquê?
Pelas minhas escolhas. Pela minha vida. E de perdoar a todos os que creio me terem feito mal, de alguma forma. No fundo, perdoar o passado. Tenho-me perguntado se esta minha necessidade será apenas uma herança cristã. Custava-me a crer que fosse apenas isso. Embora sejamos imensamente influenciados, claro está.
Hum. E achas que não é?
Acho que não. Outro dia, em conversa, por sinal bastante terapêutica, com alguém, dei conta que talvez isto tivesse a ver com a minha necessidade premente de liberdade.
De liberdade?! Como assim? Engraçado falares disso neste dia.
Pois é. Se calhar não é por acaso. Que me assaltam estas ideias, hoje.
Mas diz-me, liberdade como?
Para seguir em frente sem estar agrilhoada a um passado. Para que essas pessoas, essas escolhas, esse passado, essa pessoa que fui, não constranja demasiado quem serei no futuro. Nunca entendi completamente a necessidade, por parte dos que sofreram crimes, de perdoar os que os cometeram. Até hoje. A palavra necessidade é bem empregue.
Isso significa esquecer? Esquecer a história?
De todo! Pelo contrário. Implica tomar consciência dela. Sem isso não há perdão possível, tratar-se-á de outra coisa.
Será que isso se passa também ao nível, por exemplo, de um país? Perdoar a sua história para poder construir outra? Para que ela não tenha demasiado poder? A história, digo. E se perde poder, não poderemos cair no erro de deixarmos que se cometam os mesmos crimes, as mesmas escolhas?
Acho que não, se conscientes do poder que tiveram. Mas isso são muitas perguntas. Tens de escolher a melhor. Ou melhor dizendo, a que preferires neste momento.
Qual?
De perdoar.
A quem?
Em geral, de perdoar. Em última instância, a mim. Ou em primeira, agora que falo sobre isto.
De te perdoares a ti? Porquê?
Pelas minhas escolhas. Pela minha vida. E de perdoar a todos os que creio me terem feito mal, de alguma forma. No fundo, perdoar o passado. Tenho-me perguntado se esta minha necessidade será apenas uma herança cristã. Custava-me a crer que fosse apenas isso. Embora sejamos imensamente influenciados, claro está.
Hum. E achas que não é?
Acho que não. Outro dia, em conversa, por sinal bastante terapêutica, com alguém, dei conta que talvez isto tivesse a ver com a minha necessidade premente de liberdade.
De liberdade?! Como assim? Engraçado falares disso neste dia.
Pois é. Se calhar não é por acaso. Que me assaltam estas ideias, hoje.
Mas diz-me, liberdade como?
Para seguir em frente sem estar agrilhoada a um passado. Para que essas pessoas, essas escolhas, esse passado, essa pessoa que fui, não constranja demasiado quem serei no futuro. Nunca entendi completamente a necessidade, por parte dos que sofreram crimes, de perdoar os que os cometeram. Até hoje. A palavra necessidade é bem empregue.
Isso significa esquecer? Esquecer a história?
De todo! Pelo contrário. Implica tomar consciência dela. Sem isso não há perdão possível, tratar-se-á de outra coisa.
Será que isso se passa também ao nível, por exemplo, de um país? Perdoar a sua história para poder construir outra? Para que ela não tenha demasiado poder? A história, digo. E se perde poder, não poderemos cair no erro de deixarmos que se cometam os mesmos crimes, as mesmas escolhas?
Acho que não, se conscientes do poder que tiveram. Mas isso são muitas perguntas. Tens de escolher a melhor. Ou melhor dizendo, a que preferires neste momento.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Identidades (clique aqui)
Hola, que tal?
Porque estás a falar em castelhano?
Es que en los últimos dias me quedo pensando en castellano, o algo parecido…así que me quedo también una otra persona. Y no te quiero iludir.
Iludir como?
Hablando en português no seria la persona que tengo sido. Teria una otra identidad. Quiero que sepas com quien estás tratando.
Estás a dizer-me que não és a minha menina de sempre?
En algunas cosas, claro que soy. Pero no soy la misma. No sé que pasa.
Mas que diferenças notas? És várias pessoas numa só?
Bueno, claro, todos lo somos. Pero siento que la lengua cambia toda la identidad. En que soy diferente…tal vez más extrovertida, más alegre, más confiante. Más ingénua, no sé…ahora que pienso en eso, no sé si quiero quedar así. Me he cansado de ser demasiado ingénua, demasiado confiante en los otros. Demasiado confiante en su sensibilidad. Es que he aprendido tantas cosas hablando en português. La verdade es que ya no sé bien quien soy…y que cansancio no lo saber…el otro dia, cuando volvia, mirava la ciudad y pensaba como estava bonita, por la noche, com sus luces. Nunca la habia mirado así. Cuando me miré, estava llorando. Es que también yo siento que estoy volvendo, de cierta forma, a mi niñez. Que estranho, não é? A sensação de caminhares, aprenderes, para poderes voltar a ser quem foste em criança. Mas é o que tenho sentido.
Voltaste a falar em português.
Voltei.
Porque estás a falar em castelhano?
Es que en los últimos dias me quedo pensando en castellano, o algo parecido…así que me quedo también una otra persona. Y no te quiero iludir.
Iludir como?
Hablando en português no seria la persona que tengo sido. Teria una otra identidad. Quiero que sepas com quien estás tratando.
Estás a dizer-me que não és a minha menina de sempre?
En algunas cosas, claro que soy. Pero no soy la misma. No sé que pasa.
Mas que diferenças notas? És várias pessoas numa só?
Bueno, claro, todos lo somos. Pero siento que la lengua cambia toda la identidad. En que soy diferente…tal vez más extrovertida, más alegre, más confiante. Más ingénua, no sé…ahora que pienso en eso, no sé si quiero quedar así. Me he cansado de ser demasiado ingénua, demasiado confiante en los otros. Demasiado confiante en su sensibilidad. Es que he aprendido tantas cosas hablando en português. La verdade es que ya no sé bien quien soy…y que cansancio no lo saber…el otro dia, cuando volvia, mirava la ciudad y pensaba como estava bonita, por la noche, com sus luces. Nunca la habia mirado así. Cuando me miré, estava llorando. Es que también yo siento que estoy volvendo, de cierta forma, a mi niñez. Que estranho, não é? A sensação de caminhares, aprenderes, para poderes voltar a ser quem foste em criança. Mas é o que tenho sentido.
Voltaste a falar em português.
Voltei.
terça-feira, 15 de abril de 2008
Oh não sejas assim, que vingativa!
Não me digas essas coisas. Sou vingativa, sim, assumo. Não acredito nas pessoas que dizem que nunca lhes apeteceu vingar-se de alguém.
Eu não. Nunca me passou pela cabeça.
Não sejas disparatada, é claro que sim.
Não, de todo.
Ai sim?! Então e aquele caso…aquele! Como se resolveu?
Não se resolveu. Fiquei tolhida por dentro. Senti-me pisada, machucada até mais não. Só me apetecia…
Diz-me, o que te apetecia?
Não há direito de fazerem isto a uma pessoa. Não são coisas que se digam nem a um cão, não achas?
Ah pois acho. E mais, conta-me, que mais sentiste?
Nem puxes por mim! Senti, senti…um ódio profundo. Mas nunca o manifestarei.
Que pena…
Pena porquê? Consegui não fazer mal a ninguém.
Acreditas realmente nisso?
Não me digas essas coisas. Sou vingativa, sim, assumo. Não acredito nas pessoas que dizem que nunca lhes apeteceu vingar-se de alguém.
Eu não. Nunca me passou pela cabeça.
Não sejas disparatada, é claro que sim.
Não, de todo.
Ai sim?! Então e aquele caso…aquele! Como se resolveu?
Não se resolveu. Fiquei tolhida por dentro. Senti-me pisada, machucada até mais não. Só me apetecia…
Diz-me, o que te apetecia?
Não há direito de fazerem isto a uma pessoa. Não são coisas que se digam nem a um cão, não achas?
Ah pois acho. E mais, conta-me, que mais sentiste?
Nem puxes por mim! Senti, senti…um ódio profundo. Mas nunca o manifestarei.
Que pena…
Pena porquê? Consegui não fazer mal a ninguém.
Acreditas realmente nisso?
segunda-feira, 7 de abril de 2008
Sonho (clique aqui!)
Mas me diga, Marília, que é que você gostava de ser mesmo?
Ué, sei não...
Pensa um pouco. Tem sonho não?
Tenho sim. De noite.
Isso é sonho passado. E de futuro, não tem? Tão jovenzinha ainda?
Futuro? Sei não. Sempre me disseram que eu tinha futuro, é verdade...mas sei não. Já meu irmão, todo o mundo dizia que não tinha, olha ele aí agora...
Mas cê é famosa também. Tá sendo entrevistada e tudo! Esse vídeo pode ir para o youtube e tudo, cê sabe?
Sei não. Mas tá bom. Eu gostava de ser vendedora.
Vendedora?! É mesmo?! Porquê?
Ah...eu gosto de arrumar e dobrar a roupa, ajudar a escolher qual combina melhor...eu fico olhando as moça lá, me dá uma inveja...
Engraçado, cê tem sonho de ser vendedora...
Eu não tenho sonho não, eu disse que eu gostava. Diferente.
É verdade, tem razão. E você não foi porquê? Teria sido mais fácil do que o que você é. E pode ainda ser!
Mais fácil?! Tá delirando, né? Aí, eu teria de te contar a história toda pra você entender...
Precisa não, já entendi tudo mesmo.
Ué, sei não...
Pensa um pouco. Tem sonho não?
Tenho sim. De noite.
Isso é sonho passado. E de futuro, não tem? Tão jovenzinha ainda?
Futuro? Sei não. Sempre me disseram que eu tinha futuro, é verdade...mas sei não. Já meu irmão, todo o mundo dizia que não tinha, olha ele aí agora...
Mas cê é famosa também. Tá sendo entrevistada e tudo! Esse vídeo pode ir para o youtube e tudo, cê sabe?
Sei não. Mas tá bom. Eu gostava de ser vendedora.
Vendedora?! É mesmo?! Porquê?
Ah...eu gosto de arrumar e dobrar a roupa, ajudar a escolher qual combina melhor...eu fico olhando as moça lá, me dá uma inveja...
Engraçado, cê tem sonho de ser vendedora...
Eu não tenho sonho não, eu disse que eu gostava. Diferente.
É verdade, tem razão. E você não foi porquê? Teria sido mais fácil do que o que você é. E pode ainda ser!
Mais fácil?! Tá delirando, né? Aí, eu teria de te contar a história toda pra você entender...
Precisa não, já entendi tudo mesmo.
quinta-feira, 3 de abril de 2008
Bom dia.
Bom dia. Desculpe o atraso. Que trânsito, hoje.
Pois, bem sei, a sra de há pouco disse-me a mesma coisa. Teve de correr para conseguir ter a consulta toda.
Ui, que horror.
Então, conte-me. Como tem sido a vida?
A vida? Normal…Ouviu falar dos neurónios da empatia?
Humm, não. E a mudança abrupta com esse tema parece uma provocação. A menina anda perita em provocações.
Oh, não, entendeu mal. Queria apenas ir directa ao assunto. Se calhar não fui muito empática. Mas não é a minha função nesta troca, comunicação, relação, conversa…enfim, os vários nomes que já reparei chamam a estas consultas.
Está enganada. Também é sua função.
Ora essa, eu pago-lhe. E ouviu?
O quê?
Falar dos neurónios. Da empatia.
Não. Novidade congressista?
Não, para o grande público! Dizem que existem uns neurónios responsáveis por respostas empáticas ao sofrimento dos outros. Bom, não necessariamente apenas ao sofrimento…agora que penso, porque não às alegrias?
Às alegrias é fácil.
Acha mesmo? Vê muita gente contente com o contentamento dos outros?
Contentinha, sim.
Ah sim, os contentinhos. Esses existem aos montões. Perdão, fui eu que escolhi mal a palavra. Felizes.
Tem razão, felizes com a felicidade dos outros também é tarefa difícil. Digamos que os extremos são difíceis.
É estranho ser difícil, não acha? Porque torna a coisa natural, o facto de até haver uns neurónios próprios dos humanos para o fazer! Como algo natural se torna numa tarefa difícil?
Se calhar estão a desaparecer. Esses neurónios. É natural, nos tempos que correm. Será selecção natural?
Bom dia. Desculpe o atraso. Que trânsito, hoje.
Pois, bem sei, a sra de há pouco disse-me a mesma coisa. Teve de correr para conseguir ter a consulta toda.
Ui, que horror.
Então, conte-me. Como tem sido a vida?
A vida? Normal…Ouviu falar dos neurónios da empatia?
Humm, não. E a mudança abrupta com esse tema parece uma provocação. A menina anda perita em provocações.
Oh, não, entendeu mal. Queria apenas ir directa ao assunto. Se calhar não fui muito empática. Mas não é a minha função nesta troca, comunicação, relação, conversa…enfim, os vários nomes que já reparei chamam a estas consultas.
Está enganada. Também é sua função.
Ora essa, eu pago-lhe. E ouviu?
O quê?
Falar dos neurónios. Da empatia.
Não. Novidade congressista?
Não, para o grande público! Dizem que existem uns neurónios responsáveis por respostas empáticas ao sofrimento dos outros. Bom, não necessariamente apenas ao sofrimento…agora que penso, porque não às alegrias?
Às alegrias é fácil.
Acha mesmo? Vê muita gente contente com o contentamento dos outros?
Contentinha, sim.
Ah sim, os contentinhos. Esses existem aos montões. Perdão, fui eu que escolhi mal a palavra. Felizes.
Tem razão, felizes com a felicidade dos outros também é tarefa difícil. Digamos que os extremos são difíceis.
É estranho ser difícil, não acha? Porque torna a coisa natural, o facto de até haver uns neurónios próprios dos humanos para o fazer! Como algo natural se torna numa tarefa difícil?
Se calhar estão a desaparecer. Esses neurónios. É natural, nos tempos que correm. Será selecção natural?
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