As famílias são do melhor e do pior que nós temos.
Pois é. Outro dia, num daqueles almoços, pensei mesmo nisso. Meu deus, a confusão que era. Passa-me o açúcar, não sejas assim mal criada, não estou a ser mal criada, só fui directa, ó filha não respondas à tua mãe, porquê sempre esta coisa, o teu pai é que tem razão quando diz o que diz, o meu pai?
Na minha há mais silêncios.
O meu pai diz mas não faz nada, e o que tem o meu pai a ver com isto? Mamã, o João disse-me que o pai dele tinha duas pilinhas, ó Joana mas que conversa é essa? E tu, sempre aí calada, com esse ar de mosca morta, seria melhor que dissesses alguma coisa.
Um silêncio de morrer. Uma tensão infernal.
Levas uma chapada, levas. Se continuas assim levas. Porta-te bem vá, não gosto nada quando fazes isto.
Queixas sub-reptícias.
Portas a bater.
Dizer sem dizer.
Estrilho, dramalhão.
Sufoco, aperto na garganta.
Que horror, liberta-te disso. Não sei como aguentas.
Que é isso?! Estás a dizer mal da minha família? Muito saudável é ela. E tu, como é que TU aguentas?
sábado, 31 de maio de 2008
terça-feira, 27 de maio de 2008
Insignificâncias
Amiga, és mesmo tu?
Ohhh, já não estava à espera de te encontrar! Como estás? Estás igual…
E tu! Tanto tempo…
Pois é…tens de me contar como fazes!
Como faço o quê?
Como fazes para te manteres assim.
Assim como?
Nessa calma, com o mundo todo neste estado à nossa volta.
Ooooh, nem sempre foi assim, é um processo. Envolve esforço. Mas vale a pena. E não penses que é sempre assim, como disse no outro dia a alguém, há dias de fugir.
Controlas-te?
Controlo. Mas não por simples necessidade de controlo. Faço-o por mim, verdadeiramente. Muito conscientemente. Não quer dizer que controle todos os meus impulsos. Controlo um pouco mais o que sinto. Uma sensação de liberdade...poder escolher um pouco o grau com que as coisas me afectam. Porque algumas não valem mesmo a pena.
E destas chatices, como saíste?
Depende do que quiseres dizer por sair. Ainda lá estou, suponho. Para que não se apoderem, ridicularizo.
O quê?
As chatices. Os meus defeitos. Os defeitos dos outros. Comportamentos tristes. Nada de muito importante. Se virmos bem, insignificâncias.
Deixas de sentir?
Pelo contrário. Sinto só de forma diferente. Cada coisa em seu lugar. Alegria e tristeza pelo realmente importante.
Mas é a tua vida…como podes dizer que não é importante?
A minha vida?! Não…acho que ninguém chega ao fim da vida e pensa que isto foi a sua vida. Estes problemas. Ainda que soframos com eles, claro, não estou a invalidar o sofrimento. Mas se for isso que vier à cabeça…
E o que achas que vem? À cabeça.
Eu espero lembrar-me do cheiro da casa dos meus avós. Da tranquilidade dos serões lá passados. De como nos divertíamos ao vir da escola. Das janelas da minha casa em que entra tanto sol, e que boa sensação a de adormecer nesse torpor. Daquela paixão que tive e de escorregar pela parede a chorar como nos filmes. E de quando nos empanturrámos de crepe com chocolate. E de…
Engraçado, coisas pequenas de que te lembras.
Pequenas?!
Ohhh, já não estava à espera de te encontrar! Como estás? Estás igual…
E tu! Tanto tempo…
Pois é…tens de me contar como fazes!
Como faço o quê?
Como fazes para te manteres assim.
Assim como?
Nessa calma, com o mundo todo neste estado à nossa volta.
Ooooh, nem sempre foi assim, é um processo. Envolve esforço. Mas vale a pena. E não penses que é sempre assim, como disse no outro dia a alguém, há dias de fugir.
Controlas-te?
Controlo. Mas não por simples necessidade de controlo. Faço-o por mim, verdadeiramente. Muito conscientemente. Não quer dizer que controle todos os meus impulsos. Controlo um pouco mais o que sinto. Uma sensação de liberdade...poder escolher um pouco o grau com que as coisas me afectam. Porque algumas não valem mesmo a pena.
E destas chatices, como saíste?
Depende do que quiseres dizer por sair. Ainda lá estou, suponho. Para que não se apoderem, ridicularizo.
O quê?
As chatices. Os meus defeitos. Os defeitos dos outros. Comportamentos tristes. Nada de muito importante. Se virmos bem, insignificâncias.
Deixas de sentir?
Pelo contrário. Sinto só de forma diferente. Cada coisa em seu lugar. Alegria e tristeza pelo realmente importante.
Mas é a tua vida…como podes dizer que não é importante?
A minha vida?! Não…acho que ninguém chega ao fim da vida e pensa que isto foi a sua vida. Estes problemas. Ainda que soframos com eles, claro, não estou a invalidar o sofrimento. Mas se for isso que vier à cabeça…
E o que achas que vem? À cabeça.
Eu espero lembrar-me do cheiro da casa dos meus avós. Da tranquilidade dos serões lá passados. De como nos divertíamos ao vir da escola. Das janelas da minha casa em que entra tanto sol, e que boa sensação a de adormecer nesse torpor. Daquela paixão que tive e de escorregar pela parede a chorar como nos filmes. E de quando nos empanturrámos de crepe com chocolate. E de…
Engraçado, coisas pequenas de que te lembras.
Pequenas?!
terça-feira, 20 de maio de 2008
Pormenores incalculáveis?
Bom dia. Bom, quer dizer, um dia chocho.
Sim, nem parece Primavera.
Bom, primeiro que tudo, conte-me…
O quê?
É uma forma de dizer…conte-me da sua vida.
Da minha vida? Da minha vida como?
Nestes últimos dias.
Ah, não estava a entender. Estou um pouco tensa. Por ter de resumir tudo rapidamente.
Conte-me o mais importante.
O mais importante ou o que despoletou o mais importante? É que são coisas diferentes…
Como assim?
Às vezes, algo que não tem nada a ver com o assunto central influencia a nossa decisão sobre ele. O assunto central.
Interessante o que me diz. Continue.
Bom, há modelos até que o explicam. A Dra não sabe? Isto não é tudo causa-efeito, embora as pessoas procurem sempre a causa. Um erro, em meu entender. Nem as causas. Impossível chegar até elas.
Mas a algumas, podemos.
Poderemos especular, sim. Se isso servir para alguma coisa. Por exemplo, senti que aquele telefonema de outro dia, de que já lhe falei, despoletou estas diferenças todas na minha vida nos últimos dias. Ainda que não tenha nada a ver com elas, pelo menos aparentemente. Uma causa improvável em relação às consequências que teve. Não nota que por vezes uma palavra dos outros, um comentário, uma imagem, uma canção, podem ter efeitos incalculáveis? Para bem e para mal. Creio que se tivéssemos consciência disso seríamos mais atentos. Bom, quem se preocupa com o bem-estar dos outros, claro.
Mas isso, como aliás já disse, é um pouco impossível. Porque uma causa pode ter efeitos completamente diferentes. Mais ainda se variamos de sujeito.
Tem razão. Embora haja coisas que, provavelmente, são universais, não? Quer então dizer que a Dra. não sabe nada de pessoas? Porque é por isso que aqui estou, não é? Porque entende de pessoas…
Não sei. A menina é que sabe porque é que está aqui. Eu só posso especular...
Sim, nem parece Primavera.
Bom, primeiro que tudo, conte-me…
O quê?
É uma forma de dizer…conte-me da sua vida.
Da minha vida? Da minha vida como?
Nestes últimos dias.
Ah, não estava a entender. Estou um pouco tensa. Por ter de resumir tudo rapidamente.
Conte-me o mais importante.
O mais importante ou o que despoletou o mais importante? É que são coisas diferentes…
Como assim?
Às vezes, algo que não tem nada a ver com o assunto central influencia a nossa decisão sobre ele. O assunto central.
Interessante o que me diz. Continue.
Bom, há modelos até que o explicam. A Dra não sabe? Isto não é tudo causa-efeito, embora as pessoas procurem sempre a causa. Um erro, em meu entender. Nem as causas. Impossível chegar até elas.
Mas a algumas, podemos.
Poderemos especular, sim. Se isso servir para alguma coisa. Por exemplo, senti que aquele telefonema de outro dia, de que já lhe falei, despoletou estas diferenças todas na minha vida nos últimos dias. Ainda que não tenha nada a ver com elas, pelo menos aparentemente. Uma causa improvável em relação às consequências que teve. Não nota que por vezes uma palavra dos outros, um comentário, uma imagem, uma canção, podem ter efeitos incalculáveis? Para bem e para mal. Creio que se tivéssemos consciência disso seríamos mais atentos. Bom, quem se preocupa com o bem-estar dos outros, claro.
Mas isso, como aliás já disse, é um pouco impossível. Porque uma causa pode ter efeitos completamente diferentes. Mais ainda se variamos de sujeito.
Tem razão. Embora haja coisas que, provavelmente, são universais, não? Quer então dizer que a Dra. não sabe nada de pessoas? Porque é por isso que aqui estou, não é? Porque entende de pessoas…
Não sei. A menina é que sabe porque é que está aqui. Eu só posso especular...
terça-feira, 13 de maio de 2008
Porque sim?
Há dias terríveis.
Não te queixes! Olha para o que tens de bom. O mundo está cheio de coisas boas, só não olhamos para elas porque são adquiridas.
Mas…
Não há mas. Olha para este céu azul, haverá igual? E o verde das árvores? E a comida que tens e outros não têm? E a cama que tens para dormir? E os teus amigos? E a tua família? E os livros bons que gostas de ler?
Mas…
E o que aprendeste com o que viveste? Não dás valor? E à pessoa que te tornaste? E à música! Ninguém te tira a tua música.
Não é isso, é que…
A arte. Não te consola uma boa obra de arte?
Sim mas…
Não há mas. Além de mais, isso da sorte e do azar é muito relativo. Tudo é construído. Co-construído. Nunca ouviste falar da co-construção? Se te falam mal é porque tu deixas. Também participas. Se te pisam é porque deixas que te pisem, porque não tens amor próprio. Se abusam de ti é porque deixas que abusem. Isso da sorte ou do azar não existe, tudo depende da forma como olhas para o conteúdo. A significação, dizem. E...
Posso falar? Mas que difícil és…Há dias em que realmente as coisas não correm bem. Não quer dizer que continuarei a ter azar amanhã, depois de amanhã, o resto da vida. Às vezes mais vale aceitar que tivemos azar, e que amanhã será melhor…Por alguma razão dizem que temos de ter resistência à frustração. Resistir também é aceitar o que corre mal, não? Porque de certeza que alguma coisa correrá mal.
Essa é uma forma passiva de encarar a vida. A vida não corre mal porque sim.
Algumas vezes, parece-me. Dizem as probabilidades. Não podes querer a perfeição. Uns dias são sim, outros são não. Não será também esta uma forma positiva de encarar a vida?
Incrível como este diálogo mudou em tão pouco tempo. Bom, bem vistas as coisas, já passaram uns dias. Isto do tempo é muito relativo, mas isso são outras histórias. A optimista era eu, mudámos de personagens! Dizes-me agora que o verdadeiro optimista é o que aceita?
O que aceita o acaso, sim. Mais uma vez repito que aceitar não significa simplesmente resignar-me, mas saber realmente o que posso controlar.
Pois lá está, dás-me razão. Só nos podemos controlar a nós próprios. E à forma como olhamos para o imprevisível.
Estou a perder o controlo. Teremos de terminar esta conversa.
Aproveita esse momento. É do melhor que há.
Não te queixes! Olha para o que tens de bom. O mundo está cheio de coisas boas, só não olhamos para elas porque são adquiridas.
Mas…
Não há mas. Olha para este céu azul, haverá igual? E o verde das árvores? E a comida que tens e outros não têm? E a cama que tens para dormir? E os teus amigos? E a tua família? E os livros bons que gostas de ler?
Mas…
E o que aprendeste com o que viveste? Não dás valor? E à pessoa que te tornaste? E à música! Ninguém te tira a tua música.
Não é isso, é que…
A arte. Não te consola uma boa obra de arte?
Sim mas…
Não há mas. Além de mais, isso da sorte e do azar é muito relativo. Tudo é construído. Co-construído. Nunca ouviste falar da co-construção? Se te falam mal é porque tu deixas. Também participas. Se te pisam é porque deixas que te pisem, porque não tens amor próprio. Se abusam de ti é porque deixas que abusem. Isso da sorte ou do azar não existe, tudo depende da forma como olhas para o conteúdo. A significação, dizem. E...
Posso falar? Mas que difícil és…Há dias em que realmente as coisas não correm bem. Não quer dizer que continuarei a ter azar amanhã, depois de amanhã, o resto da vida. Às vezes mais vale aceitar que tivemos azar, e que amanhã será melhor…Por alguma razão dizem que temos de ter resistência à frustração. Resistir também é aceitar o que corre mal, não? Porque de certeza que alguma coisa correrá mal.
Essa é uma forma passiva de encarar a vida. A vida não corre mal porque sim.
Algumas vezes, parece-me. Dizem as probabilidades. Não podes querer a perfeição. Uns dias são sim, outros são não. Não será também esta uma forma positiva de encarar a vida?
Incrível como este diálogo mudou em tão pouco tempo. Bom, bem vistas as coisas, já passaram uns dias. Isto do tempo é muito relativo, mas isso são outras histórias. A optimista era eu, mudámos de personagens! Dizes-me agora que o verdadeiro optimista é o que aceita?
O que aceita o acaso, sim. Mais uma vez repito que aceitar não significa simplesmente resignar-me, mas saber realmente o que posso controlar.
Pois lá está, dás-me razão. Só nos podemos controlar a nós próprios. E à forma como olhamos para o imprevisível.
Estou a perder o controlo. Teremos de terminar esta conversa.
Aproveita esse momento. É do melhor que há.
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Sobe sobe, balão sobe
Começa a encher.
Mas de quê?
Sei lá, do que quiseres. Se não tiveres mais nada, enche de ar.
De ar?!
Sim, como se fosse um balão. Sopras bem. O que importa é que fique bem cheio. Vais logo sentir-te melhor.
Estás a comparar-me com um balão?
Mas quantas pessoas não estão cheias de ar? O que importa é funcionar.
Não acredito que funcione.
Depende do que entendes por funcionar. Se quiseres sentir-te apenas cheio de qualquer coisa, funciona. Não penses muito. Só tens de ter cuidado para não rebentar. Arranja um plástico forte que não rebente facilmente. Com sorte, consegues sobrevoar sobre os outros. Sentir-te-ás acima. Ficarás, talvez, um pouco arrogante, faz parte do processo, assim consegues manter o balão cheio durante mais tempo. E admira bastante o teu balão. Admira-o, admira-o…e sobre o balão dos outros, nunca digas bem. Proibidos elogios. Desculpa, mas as metáforas são das formas mais claras de expor assuntos. E parece que funcionam muito bem. Chegam mais às pessoas. Dizem. Assuntos terapêuticos ainda muito por explorar.
Gostava de encher com algo mais substancial do que ar. Deve ser mais difícil rebentar, não?
Sem dúvida. Mas é um processo muito mais complicado, exige muito de ti. Este que te digo é simples e rápido. Basta seguires os passos. Também ajuda se nas tuas relações familiares e outras preferenciais tiveres sido pouco valorizado. Assim não poderás dar, o que torna tudo mais fácil. Finges que dás. Mais uma forma de te defenderes, para que não rebente.
Porque não posso dar?
Só pode dar quem recebeu e por isso aprendeu. Teve bons modelos. E quem está cheio, mas de outras coisas. Os outros são fortes fracos, entendes? Acho que há muitos. Dão-se bem, aparentemente. Mas é o que interessa. As aparências.
Mas de quê?
Sei lá, do que quiseres. Se não tiveres mais nada, enche de ar.
De ar?!
Sim, como se fosse um balão. Sopras bem. O que importa é que fique bem cheio. Vais logo sentir-te melhor.
Estás a comparar-me com um balão?
Mas quantas pessoas não estão cheias de ar? O que importa é funcionar.
Não acredito que funcione.
Depende do que entendes por funcionar. Se quiseres sentir-te apenas cheio de qualquer coisa, funciona. Não penses muito. Só tens de ter cuidado para não rebentar. Arranja um plástico forte que não rebente facilmente. Com sorte, consegues sobrevoar sobre os outros. Sentir-te-ás acima. Ficarás, talvez, um pouco arrogante, faz parte do processo, assim consegues manter o balão cheio durante mais tempo. E admira bastante o teu balão. Admira-o, admira-o…e sobre o balão dos outros, nunca digas bem. Proibidos elogios. Desculpa, mas as metáforas são das formas mais claras de expor assuntos. E parece que funcionam muito bem. Chegam mais às pessoas. Dizem. Assuntos terapêuticos ainda muito por explorar.
Gostava de encher com algo mais substancial do que ar. Deve ser mais difícil rebentar, não?
Sem dúvida. Mas é um processo muito mais complicado, exige muito de ti. Este que te digo é simples e rápido. Basta seguires os passos. Também ajuda se nas tuas relações familiares e outras preferenciais tiveres sido pouco valorizado. Assim não poderás dar, o que torna tudo mais fácil. Finges que dás. Mais uma forma de te defenderes, para que não rebente.
Porque não posso dar?
Só pode dar quem recebeu e por isso aprendeu. Teve bons modelos. E quem está cheio, mas de outras coisas. Os outros são fortes fracos, entendes? Acho que há muitos. Dão-se bem, aparentemente. Mas é o que interessa. As aparências.
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