Está frio.
Está. Um movimento de contracção. Diminui a entropia. Diferente daquela nossa conversa sobre a chuva.
Já houve um outro período de frio intenso. Não te lembras? Corríamos do restaurante para tua casa. E o meu trajecto era ainda um pouco mais longo.
Lembro-me…Gostas de mim?
Claro. Que pergunta, logo hoje.
Bem sei. Queria apenas ter a certeza, para poder estraçalhar com tudo. Foram duros tempos estes, em que não te sentia tão tranquilamente próxima. Finalmente vi-te pronta para ir ao cinema. Aviso-te desde já para manteres a calma.
De vez em quando tens conversas um pouco surreais.
Sabias que essa era a minha linha. Apesar de me fascinar essa tua racionalidade. Não só tua, mas dos que estão à tua volta. Sempre te fui dando um discurso simbólico e confuso. E chegámos mesmo a pensar naquele teu sonho em que eu entrava, lembras-te? E barquinhos, e espectáculos. O papel do inconsciente na criação. Tu lá foste indo, eu sabia que na tua nuca havia uma bicha daquelas. É na nuca não é?
É verdade. Sempre me viste esse meu lado.
Agora mantém a compostura. Só te fica bem.
Mas afinal o que queres? E quem és tu para te pores com esses moralismos?
Eu sou tu. E é claro que sabes disto.
Mas tu própria perdes. A compostura. Como é possível vires agora dizer-me isso?!
Estás doida. Ou és. Não entendo a tua exigência. E que agressividade essa. Deixa-me em paz! Será que não consegues entender o que te digo?!
Claro. Mas permanecerei sempre, ainda que penses que não. Minha bicha, ou bicha de mim. Repito-me, até ao dia em que simplesmente possa estar sem pudores. Sem teres de me ver de costas. Ah pois. Fecha esses olhos angelicais. E eu a fechá-los. Tonta. Minha diabinha. E sou. Diabinha de mim. Mas não penses que não fazes parte do sistema. Não há cá observadores independentes, e a lógica é circular. Querias que espingardasse por todos os lados, precisavas disso para te acalmar. Que o meu lado dramático gritasse. Será um pleonasmo? Pôr o dramático a gritar.
Não sejas pedante com as figuras de estilo. E põe um pouco de lógica nessa cabeça.
Lá estás tu com as críticas. Que te interessa a forma como escrevo? É engraçado vires-me tu falar de lógica. Arranjei duas lógicas diferentes. E ruas diferentes, e nomes diferentes, e casas diferentes. Catapum catapum, bem sabias que não era por aí. Queres ir tão rápido que vais aos tropeções. Cheguei a pensar que tudo era real, e não apenas da minha cabeça.
É sempre na nossa cabeça. E de qualquer forma, que diferença faz? Não estudas que apenas o significado interessa? E o que vais fazer com ele agora? Com o significado.
Comprimi-lo. Sintetizá-lo. Será mais simples agora, com o frio. Voltou o inverno. E mais uma vez eu também. Ao meu caminho.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
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2 comentários:
Um tango dança-se a dois. Mas há os pares que culpam o outro pela "queda", esqucendo-se do que segredaram ao ouvido ou dos passos em falso, levando ao desequilibrio. E o que levou ao passo em falso? E o que...???
Ficamos doidos, porém a lógica é circular. Que chatice! Já não posso dormir descansado.
:)))
Pois é...é-nos difícil entender a circularidade. É muito mais fácil de outra forma.
Mesmo quando as personagens são internas (e não acabam por ser sempre?)
Obrigada Rubito.
E beijinhos
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