terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Sos 2009

Estou sim?

Linha de atendimento SOS 2009.

Bom, eu tenho um problema muito grave.

Diga.

Preciso de falar com alguém antes deste ano acabar.

Diga. Qual é o seu problema?

É esse.

Qual?

Preciso de falar com alguém antes deste ano acabar.



Estou?

Sim sim. Desculpe. Estava a pensar o que havia de lhe dizer. E é comigo que quer falar?

Se me ouvir, claro. E se puder dê algum feedback, para ter a certeza que aí está…

Claro.

Um confirmador. Está óptimo. Permite estabelecer empatia. Vou então começar. Prazo de validade. Uma carne óptima, olhava para ela. Um lombo daqueles. Mas o prazo acabava-se em pouco tempo. Comecei então a pensar se seria boa ideia

Hum hum.

Porque não sei se passarei cá os próximos dias. Posso entretanto não comer a carne, o que se torna mesmo muito desagradável, tendo em conta vários factores, como o de haver muita gente com fome e também o de eu ter pouco dinheiro. Não posso desperdiçar as oportunidades. O tempo, o tempo. Incrível como sem querer os textos se ligam com o que vai acontecendo, e digo-lhe que acontece depois de escrever, o que é bastante desconcertante.

Prevê o que vai acontecer?

Está mesmo aí! Não só a ouvir-me, como a tentar compreender-me! É fantástico este vosso sistema. Claro que não peço que me compreenda de facto. Mas confirmadores, reguladores e perguntas…deveríamos aprender a fazer mais perguntas. Não há forma melhor de nos sentirmos compreendidos. Ele dizia-me que me ouvia, e que eu não podia querer que me desse respostas aos problemas. Claro. Confirmo. Mas na realidade não era isso que eu queria. Queria apenas perguntas genuínas, entende? O que eu queria realmente era achar-me na cara dele. Ou, enfim, que me dissesse “claro”, quando lhe perguntava se entendia. Precisava realmente de qualquer coisa, mas não era de uma solução imediata e estúpida. Finge que estás bem, dizia-me. Isto não é de todo estúpido, mas dependerá muito da forma como se diz. A forma, sabia que a forma é o que realmente determina? Os eventos relatados podem ser os mesmos, ou de teor ainda mais negativo do que anteriormente, mas a forma é determinante. Estou absolutamente cheia de dores de barriga hoje, e acho que é porque engoli ar naquele almoço. A conversa do lombo fora de validade começou a enjoar-me. Nem foi bem o conteúdo, digo-lhe, foi a forma desprendida com que enviaram o lombo para o lixo. O modelo que nos foram metendo na cabeça. Já não bastam as hormonas. PARA O LIXO! LOMBO PARA O LIXO! NÃO VÊS O PRAZO? Gritam o modelo em uníssono. ATENÇÃO! URGÊNCIA! CORRE! E eu a esbracejar. E afinal o que é isso de ser feliz? Uma infelicidade a invenção dessa palavra. Felicidade. Sim, é só uma palavra. Não pense que eu digo isto e não sou apanhada, faço é por reinventá-la a cada dia que passa. Um congresso sobre a felicidade, próximo ano, na faculdade. Todos a dizerem mal, totós dos optimistas, e olha. É uma questão de moda, tudo uma questão de moda.

Hum hum.

O último regulador desta conversa. Já estou muito melhor. A Sra foi fantástica. Fico contente de ver que aprendem umas coisas sobre comunicação na faculdade. Mas que tenho eu de ficar contente? Agradeço-lhe apenas. E desejo-lhe um bom ano de 2009. Do fundo do coração.

3 comentários:

Ruben disse...

"SOS 2010"

Sim? Está aí ainda?
Ia dizendo que alcançou muitas coisas neste último ano e que, apesar de tudo, não estranho a sua chamada à nossa linha. Sabe, andam todos muito ocupados. Sim. Pensou que o problema era seu? Não. É meu, é seu, é nosso e é dos outros. Acho que é uma virose. Dizem. E sabe o que dizem os especialistas acerca das viroses? Prepare-se: não têm cura, tem de deixar passar tempo. Algumas precauções apenas. É como nos distúrbios de personalidade, nao pode prescrever fármacos. Parabéns, você tem uma personalidade borderline!

Confirmadores? sim sim. Estão a desenhar um programa informático. Lembra-se das bonecas?
Mas eu estou aqui... com uma máquina entre nós e sem entoação na voz.

Bom ano novo.

Anónimo disse...

:)

Tu vê lá o que dizes, ainda pensam que me estás a dar rótulos daqueles da pesada...;)

Por acaso, apesar de também não gostar desses rótulos imobilizadores, acho que há alguma razão na necessidade de deixar passar tempo. Ter um pouco de paciência connosco...

As bonecas! Claro que me lembro! Engraçado é tu também te lembrares!

Beijinho grande de bom ano.

Ruben disse...

... Pois, falta as aspas - "parabéns, você tem uma personalidade borderline". "E o que faço eu com isso?". "Pois...". Seguem-se descrições acerca do dito disturbio. Ajuda? Sim, poderá orientar. Mas Acho que entre profissionais surgem muitas vezes (os rótulos) como uma forma de nada fazer e apenas descrever. Não que tenham de fazer sempre qualquer coisa.