quinta-feira, 11 de junho de 2009

Esperas por mim, Charlie Brown?

Então? Aparece, já estou cansada.

Procura bem!

Estou de férias, não é justo fazeres-me andar assim neste desvario.

Procura bem!

Não quero procurar. Estou cansada de tantas perguntas. Será possível viver um pouco sem perguntas? Porque acharíamos tão divertido, ainda tão pequenos, brincar a fugir uns dos outros? Quais são os insectos que mais se aproximam dos homens? Porque é que os castores constroem barragens? Há mamíferos sem pêlos? Porque é que os cangurus têm uma bolsa? Porque fica tão feliz um bebé a encontrar os olhos escondidos por trás das mãos, vezes e vezes e vezes sem conta? A que velocidade crescem os cabelos? Porque não podemos respirar debaixo de água? Que quantidade de sangue temos no corpo? O que é uma nódoa negra? As borboletas diurnas fazem casulo? A que se assemelha uma enguia jovem? Os peixes voadores voam mesmo? Como é que os pirilampos se iluminam? Porque trememos quando temos frio? Porque não podemos ter varicela mais do que uma vez? Por que razão coramos? Porque é necessário sentir a dor?

Ela protege-te de coisas ainda mais terríveis. Por exemplo, se tens alguma coisa num ouvido, as células nervosas enviam uma mensagem de dor ao cérebro e este fica a saber que se passa algo de estranho e decide o que deve fazer.

Quem és tu?

Sou o Charlie Brown. Não te lembras de mim? Tinhas seis anos quando nos conhecemos.

Porquê tantos porquês, Charlie Brown? Que te deu para fazeres um livro com respostas sobre todas as espécies animais, do caracol ao homem? Vamos parar, Charlie. Nos próximos tempos vamos inverter a lógica de encontro entre as perguntas e as respostas. Um aranhiço é um animal aparentado com as aranhas mas que não tece teias. Esta resposta andava escondida, pobre, desencontrada da sua pergunta. O que é um aranhiço? Viste, Charlie Brown? A resposta encontrou a sua pergunta! Também isto é circular, não são só os comportamentos das pessoas. Estou cansada da circularidade, Brown Charlie, precisamos de nos iludir com finais e recomeços. Na verdade não fazes todas as perguntas, só as que fazem sentido, e isto é um ciclo sem fim, e eu ando demasiado cansada. Entenderás? Preciso de fins, para haver uma certa coerência com o tempo. Se me ponho a pensar que o futuro influencia tanto o passado quanto o contrário…Charlie!

Diz minha querida.

Pareceu-me que estavas distraído. Charlie, as minhas células nervosas…andam a enviar sms ao meu cérebro a dizer que se passa algo. E o meu cérebro decidiu. Não procurar. Vou de férias, pelo menos uns dias. Esperas por mim, Charlie Brown?

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