segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Úrsula maior

Não consigo explicar este cansaço que sinto.

É permanente?

Sim. Um peso nos olhos.

Anda a pensar em muitas coisas?

Nem por isso. Ontem, no meio do jardim, senti que precisava apenas daquilo. Um sossego.

O que a impede de fazer isso?

A minha vida. A minha cabeça. Não me permite fazer apenas parte desse conjunto. Rapidamente sinto o barulho dos aviões aqui ao lado. E mesmo quando consigo, fico desprotegida.

Como assim?

As minhas bases são outras. E bem sabe como precisamos de seguranças. Nem que seja do barulho dos aviões. Lembrei-me logo daquele fim de semana no Alentejo, e do espanto que causei nos outros. Uma libertação. Poder correr. Acho muitas vezes que não faço parte deste lugar. Mas logo vem uma parte de mim que diz que sim, que faço. Tenho nós por desatar, Dra. Acha que se os desatar a minha vida vai mudar?

Depende do significado que lhes der. E do modo como os vai gerir.

Tenho a vaga esperança de que tudo se desvaneça quando eu os compreender. Um desejo de simplicidade. Talvez aí saiba o que fazer. Aproveitar o ano novo para mudar a minha vida. Sento-me em frente ao computador para escrever. Ponto um. Não passo daí. Sempre a iminência da mudança. Serei eu que a procuro, não consigo viver sem sentir que me transformo. Uma frustração quando vejo que me repito.

Há coisas que repetirá sempre. Tente aceitá-las. Talvez a estratégia que utiliza não seja a melhor. O tempo, o tempo. Mude, mas dê-se tempo a si mesma.

E como distingo o que devo mudar e o que faz parte de mim? Não quero andar a reboque, ouço. A minha vida teria sido um conto de fadas, mas apareceste tu. Amiga, como hei-de fazer para ela me tratar bem? Trata-te bem a ti. Maria, os meus filhos fazem desenhos horríveis, quererá dizer alguma coisa? Dra, tenho medo dos outros. E a história da sra que viveu 6 meses naquelas condições. Um horror, dizem. E eu a compreender tudo. Aguenta-te sozinha. E o ar a cheirar a lareira, e as casas cheias de gente, se fosse mosca perdia-me, e já assim é o que é. Não és a minha querida porque isso seria injusto. E eu a compreender tudo, a compreender tudo. Não posso dar outra coisa senão insegurança, compreende. A compreender tudo. Não te armes em especial, que eu não aguento, compreende. Devagar, peço. Devagar! grito. Assim, como poderás prestar atenção a todos os sinais?! Observa. Tenho uma Úrsula maior no braço e nem davas conta. Queria crer que esses olhos me chegam cá ao fundo, mas julgo que não é verdade. Se chegassem saberias. Seguramente que saberias. Compreender tudo.

4 comentários:

Anónimo disse...

Minha querida Dupinhas,

Gosto de todos os teus posts...mas este é arrasador...no bom sentido, claro, sempre no bom sentido:)

Como partilhamos o mesmo optimismo...o 2009 vai ser muito muito muito bom! Até atendi uma pessoa que me informou que este ano era excepcional para os caranguejos e aquários-será um sinal? Para quê??
Venham as mudanças...o pior é a angústia delas:)

Lá ganhei coragem e escrevi antes de 2009...1ª boa mudança.

Anónimo disse...

Querida Inês,

também já pensei que os sinais eram constelações... eu, por acaso, tenho as três marias no antebraço...

Anónimo disse...

O sentimento de não se pertencer aqui, de se ser diferente de tudo, diferente de todos... a sensação de que não há ninguém que realmente nos conheça a fundo, que nos possa compreender totalmente...

Mas pode sempre ser-se feliz, muito feliz, embora este tipo de sentimentos teimem em acompanhar-nos.
Já não é defeito, é feitio!

Muitos beijinhos ***
Inês

Anónimo disse...

Dupinhas,

Que prenda boa esta! Será um sinal sim! É de facto uma angústia muito grande, mas ao mesmo tempo é bom sabermos que traz mudança. Tudo a mudar, tudo a mudar...:)

MP,

Quem sabe não é por acaso...que tens as três marias ;)

Inês,

É verdade. Não sei se será uma impossibilidade mesmo, ou se algum dia esta nossa sensação vai terminar. No entretanto, vamos fazendo por viver bem.


Beijinhos a todas, e um Bom Natal!