domingo, 14 de dezembro de 2008

Fim

Boa tarde. Há quanto tempo!

É verdade…Tenho andado bem. Mas ontem senti-me desesperada, por isso lhe telefonei.

Eu entendi. Então?

Não aguento esta oscilação.

Explique-me melhor.

É que já não sinto que seja uma oscilação de humor. Sinto que é uma oscilação entre duas pessoas. Ou entre várias pessoas.

Como assim? Não é apenas outra forma de tratar a oscilação?

Talvez, mas sinto dessa maneira. Como se tivesse duas vidas.

Isso é óptimo, aproveita a dobrar.

Não brinque com isto, Dra.

Desculpe, estava a desdramatizar.

Isso só funciona com uma parte da Rosa. Começo a enlouquecer com a consciência desta separação. Quero voltar a estar tranquila.

Essa Rosa também é apenas uma parte. Vai sentir-se mal quando estiver apenas tranquila.

Mas preciso de uma margem de segurança para poder actuar dentro da intranquilidade. Senão começo a passar-me para o lado de lá. E nos últimos dias tenho-me alimentado disso. Do medo. O que faz com que não haja espaço para mais nada. Tento encher, tento encher, mas tudo me parece ridículo.

Observe-o. Esse medo, não é ridículo também?

É.

De que lhe serve? Que função tem?

A função do sintoma. Não a sabia de primeira ordem. Preenche-me. O medo. O desespero. O drama. Apesar de eu conseguir actuar no outro registo, quando assim é necessário. Estás boa, Rosa? Respondo que estou tranquila, e o que é facto é que estou, dentro dessa personagem. Não é uma questão de fingimento, o pior é que nesse momento sinto isso, o que me desconcerta. Cada vez menos tempo, cada vez menos tempo. O tempo é um conceito, o tempo não existe. E no entanto a Rosa tranquila e a Rosa intranquila vivem dele, e de saberem que a uma se sucederá outra, afinal como tudo na vida, sempre tudo a mudar. Se calhar passo bocados exageradamente longos em cada personagem, e começo a descontrolar-me. Deixa um dedo de fora, Rosa. Ou a cabeça de fora? Passam mesmo a personagens, as Rosas. Desculpa, não tenho conclusão, e tudo se tornaria demasiadamente longo. A conclusão terá de ser simples. Curta. A matar. Mas nesta sessão não consegui chegar à Rosa que queria. Como no conto sistémico, cada um lhe dá o fim que quiser. Sem esforço. Sem esforço. Ele há-de chegar.

5 comentários:

Ruben disse...

"Princípio"
Ai Rosa, o seu sufoco passou para este lado.
Pergunto-me se não será o início de algo, essa sua crise. Será?
Mas também penso: de que lhe serve isto de ser o início ou o fim?

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Tem razão, Ruben. Sem dúvida o início de algo. E acho que marcar um início terá a sua função. A definição, por si, às vezes é necessária. Para que ganhemos um novo fôlego.

Sendo um início. O início do quê? Daí talvez a angústia. O fim da oscilação. E agora? Tem de se optar por uma das personagens? É possível integrá-las?

Ruben disse...

Creio que sim, considerando que têm por base o mesmo centro. podem parecer dissociadas, mas partilham muitas coisas.
Senão, viva a diversidade. Saber viver com essa característica poli.

Anónimo disse...

:) Adoro o teu optimismo. Não um optimismo tolo, mas genuíno.

Saber viver com essa característica poli. Guardarei.

Muitos beijinhos.