sábado, 22 de novembro de 2008

Por me teres obrigado a comer (clique aqui)

Porque pediste esta música?

Não sei bem. Ando a acordar a trauteá-la. Conheces-me, sabes como isto me acontece tantas vezes.

Sim, uma característica tua engraçada. Um traço obsessivo numa cabeça criativa.

Oh…só tu para falares de mim dessa maneira.

Porque te conheço. E ao contrário do que diz o João, o meu traço, também obsessivo, de tanto escolher as palavras, tem a ver com o facto de não te querer reduzir a elas. Não é medo de revelar demais, mas sim de menos.

Não sei se tem a ver com os meus sonhos…Esta escolha.

Sonhos que tens tido?

Não falava desses. Antes uma certa nostalgia de sonhos futuros passados. Com a perfeita consciência de que hoje em dia não fariam sentido, mas sinto uma certa ternura por eles. Passou mais de um ano.

Sim. Estás diferente. De certa forma mais parecida com o que já conheci de ti há mais tempo. Sabes que construímos a trajectória da nossa história desde pequenos. Dão-nos histórias possíveis, dentro de um leque mais ou menos variado. Nichos, ou lugares mais ou menos fixos, com formas também elas mais ou menos fixas de nascer, crescer, lutar, esperar, morrer. É duro constatar que se calhar temos de mudar. As nossas trajectórias. E não é só à conta dos acasos.

Queria agradecer-te por tudo. Um longo e ao mesmo tempo rápido ano para mim. Por me teres acolhido em tua casa naquele dia, e me teres obrigado a comer. Por acreditares tanto em mim. Por me ouvires tantas horas com discursos tão iguais. Por me teres garantido que ia passar sem que ficasse amarga. Por me teres dito que tudo ia correr bem, porque não podia ser de outra maneira. Por me admirares e o dizeres. Pelos emails diários. Por compreenderes o mesmo esqueleto por baixo do farrapo. Por me deixares ajudar-te. Por comentares os meus textos. Por sempre teres achado que o que diziam ser uma fragilidade minha para ti era uma força. És forte e frágil pelas mesmas razões, e não deram conta. Passaram ao lado, não perceberam nada. Inês, Rosa, Maria, Marília, João, António, José era o meu avô, que acabo de me lembrar dele. Imagina que me alertou na véspera, e nós que pensávamos que ele não estaria muito bem. O mais lúcido. Por te rires tanto comigo, e isso é a melhor prenda que me podem dar. Este texto é nostálgico, que é como eu estou hoje. Para não utilizar outros rótulos para estes estados. Não gosto de fazer destes textos diários sentimentais, com música de fundo a alimentar-me as lágrimas. Mas repara, não é tão dramática como o seria há uns anos, e contém esperança. A função auto-terapêutica sobrepõe-se neste caso, e por isso escrevo. Escrevo. Escrevo. Porque também mereço dar-me tréguas. Porque preciso de ir dormir. Porque já passou mais de um ano.

6 comentários:

Anónimo disse...

lá dei com isto...
um grande beijinho (contra-senso?, grande e inho?)

Anónimo disse...

Não fui eu quem escreveu a entrada anterior.
Acreditei e acredito em ti. Sei que vais ter uma vida difícil, mais difícil do que a minha foi, porque os tempos são outros e porque eu tenho uma capacidade de gostar do que não muda nunca, uma capacidade de solidão que tu, afectiva, sedenta de uma festa, não tens, pelo menos ainda.
Mas, sabes, talvez eu goste mais de ti enquanto fores assim, enquanto tiveres de me perguntar se eu ainda gosto de ti.
Lembras-te da rocha por dentro? É isso que me permitiu não me magoar tanto, não pedir tanto. E contudo, como sabes, ainda sangro tantas vezes. Mas é essa ausência do interior de pedra de que eu gosto tanto em ti.
Disso e de rir contigo, de ver a tua cara iluminar-se com um riso travesso de criança ou com um riso transparente de pessoa sem persona.
Penso muito em ti, mesmo que agora escreva menos. Mas eu tenho, e tu sabes porquê, de cultivar a rocha, de a tornar mais forte.
Menina forte e frágil, é o que tu és. Ou mulher forte e frágil, mas a menina a mim enternece-me mais; a mulher fascina-me, mas o fascínio é perigoso e não gera vontade de ajudar, mas de possuir.
E eu, que já possuí tanta gente porque não consigo relacionar-me com pessoas mas apenas com imagens que posso controlar, não gostaria de ti se te quisesse possuir.

Anónimo disse...

:)

Obrigada aos dois.

Não só deste com isto como até comentaste! Sempre a surpreender-me com a tua consistência...Acho que não é contra-senso. Um beijinho às vezes pode ser enorme...

E para o meu outro anónimo de estimação só posso enviar beijinhos muitos. Conheço a rocha, mas conheço o outro lado também. Afinal sempre soubemos que somos parecidos. E não é na dureza. Mais beijinhos.

Ruben disse...

Inês. Nunca me dirigi a ti num destes comentários. Talvez pela exposição (de ambos os lados). Contudo, não posso deixar de o fazer desta vez.
Então, se me permites (não tens outro remédio), devo dizer-te que há pesoas que dá prazer conhecê-las e voltar a conhecer. Não pelos seus resultados, sucessos, brilhantismos... não. Há pessoas que vão ao fundo, sim, tocam nele e conseguem, nem se percebe como, sair dos piores dos cinzentos. Como?! Saem. Não são brilhantes. Falham. Enganam-se. Sim, enganam-se muito. Vivem? Muito. Intensamente. Dão-se a conhcer? Sempre. Sem pudores.
Há pessoas como tu, que merecem a vida e que continuam "espantadas por exixtir".
Ainda bem, Inês...

Ruben disse...

*existir :)

Anónimo disse...

Ruben. Que hei-de dizer...?

Obrigada por tudo.

E muitos beijinhos.