sábado, 20 de setembro de 2008

Explica-me

Diz qualquer coisa, por favor.

Que queres que te diga? Já disseste tudo.

E entendes?

De certa forma.

Por favor não comeces com essa linguagem que quer dizer tudo e nada ao mesmo tempo. Já viste como nos podemos dar tão bem durante tanto tempo, e de repente discordar e não conseguir resolver uma situação?

Depende do que quiseres dizer com resolver.

Procuro encontrar soluções. E um sistema só gera problemas que é capaz de resolver.

Não encontrar uma solução pode ser uma solução. Ou não a procurar.

Não acredito nisso. Se tens uma dor fazes por tirá-la. E para isso fazes um esforço para entendê-la, de uma ou de outra maneira. Dá-te poder sobre ela. A dor.

As coisas tornam-se mais complicadas com as pessoas. Os motivos ou as causas não são evidentes. Não conheces a experiência em que as pessoas atribuíram razões para o que tinham feito que nada tinham a ver com as razões verdadeiras?

Achas que todas as razões são falsas? Agimos antes e pensamos depois?

Não sei. Mas a experiência sugeria isso. Ou pelo menos que explicamos depois, baseados em dados conscientes.

Bom, mas isso não quer dizer que não as dês. Explicações. São necessárias. Ou não? Porque quer queiras quer não, todos atribuímos explicações às coisas. E o pior é que as interpretamos com base nas experiências anteriores. Cada um de nós estabelece regras para entender os outros e a nossa relação com eles. Um susto.

Gostava que me desses uma explicação lógica, ainda que falsa. Se tu e eu acharmos que ela é verdadeira, e isso me apaziguar…

E o que pode fazer com que ela seja considerada verdadeira por ti? Porque a explicação que te dou é baseada na minha interpretação, que pode não te servir…de acordo com as tuas experiências anteriores.

Sim, mas fomos criando uma lógica comum. De palavras. Que pode não ser a mesma dos afectos. E no final é a única coisa que interessa. Os afectos. Essa tradução será talvez um dos problemas. Mas se calhar tens razão, é uma inevitabilidade. Porque choras? Explica-me, por favor. Gosto tanto de ti…

Porque a minha sandália se estragou. Estava a precisar de um bom motivo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Isto anda muito parado por aqui... gostava de ler mais e mais, porque adoro a forma como escreve!

A razão porque ainda não comentei este texto é porque me deixou sem palavras. Diz tanto do que sentimos, pensamos... fala daquela tentativa consciente de escondermos os nossos verdadeiros motivos, não dos outros mas de nós mesmos (fiz isso tantas vezes).
E sim... às vezes precisamos de um bom motivo para chorar...

Beijinhos,
Inês