segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Deixa a chuva cair

Continua a chover. Não te esqueças do chapéu. Que dias agitados estes, quando começa a chover.

Gosto de chuva.

Eu não.

Este silêncio entre nós, que se transforma por vezes em conversa de surdos, está a tornar-se incómodo.

Claro. É assim a vida. Um sucessivo resolver de qualquer coisa.

Vês, que queres dizer com isso?

São sensações básicas, utilizadas em tudo o que fazemos. Mesmo quando criamos algo. Ou sobretudo quando criamos. Aumenta a confusão, ou a tensão, para depois se formar um novo estado. Que traz tranquilidade e prazer. Lembro-me agora que já há muitos anos me interessei pela entropia quando a estudei noutro contexto. Gosto de entender estas passagens.

Dizes-me que inventamos problemas apenas para os resolvermos?

Bom, não exactamente…E problema não me parece a palavra mais certa. Antes algo que foge da norma, ou do estado habitual, e que nos provoca ansiedade. E muitas vezes não os criamos, é simplesmente o curso natural da vida. Não existe vida sem contrariedades, nem tranquilidade sem inquietação. A diferença, a diferença, lembras-te?

Estás a ser um pouco vaga. Terá a ver com a nossa relação? Vejo-te tão clara com alguns outros.

Seguramente que tem a ver com a relação. Mas também não sei como mudar a relação sem um corte. Na antiga forma de nos relacionarmos. Estava aqui a pensar como costumamos fazer isso naturalmente, sem pensarmos sobre o assunto. Se chegasse a isso ficaria tudo bastante mais fácil. Tentarei estrategicamente ser mais clara, e isso em princípio produzirá em ti uma resposta diferente da habitual. A diferença, a diferença, levei anos a perceber profundamente isto. Ou não sei se profundamente, mas pelo menos tenho essa sensação. Cá estou eu a criar as minhas tensões favoritas, as de tentar perceber. A que tu chamas problemas. Quando vês uma obra de arte, ou ouves um concerto, o que sentes é semelhante.

Humm. Quando gosto tenho a sensação de não pensar. E acho que é por isso que gosto.

Exactamente. Mas conscientemente, senão não dirias que gostavas. E com este acordo entre nós geramos um estado de tranquilidade. Contrais, e descontrais. O mesmo quando produzes. Uma tensão consciente. Mas o sentimento é primordial. Tentava falar disto num texto anterior, mas além de ser um assunto difícil, não o conhecerei o suficiente para o simplificar em poucas linhas.

Andas a espraiar-te, andas…e acabo por não entender bem o que dizes.

Compreendo. Nem eu percebo muito bem. Tento sentir o que digo. Ou dizer o que sinto? E está a chover. Põe-te aqui, debaixo do chapéu.

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