Boa tarde.
Boa noite, menina.
É verdade, já é boa noite. É para a rua dos fanqueiros, por favor.
Sim Sra. Porque já é crescida. Vamos aqui por baixo, é mais longo mas apanha menos sinais.
Sim sim, nunca vim por aqui, mas está bem.
Não veio?
Não, quer dizer, nunca fiz este caminho. Não é costume vir para aqui. Por isso seguimos o que achar melhor.
Ah. Que chatice, não é normal este comboio passar a estas horas. Acasos. Sabe menina, temos de aproveitar as coisas quando elas nos aparecem.
Tem razão.
Se lhe aparecer uma oportunidade não a desperdice. Tem é de saber que é ele.
É ele?
O momento.
Tem razão. Bom, mas muitas vezes não sabemos.
Pois olhe, ou sabemos uns quantos anos depois.
Foi o seu caso?
Já lá vão 40 anos…teimosia menina, pura teimosia. E agora olhe.
Então? E não o encontrou mais? Ao momento.
Foi com o autocarro. Não vou pensar mais nisso. Não acha? Se calhar se o fosse ter aproveitado, outros não teriam acontecido.
Bom, então no fundo acha que não estava destinado. Tê-lo aproveitado.
Pois isso não sei. Acho é que tinha sido mais feliz, agora se estava destinado ou não…
Que triste. E não pode recuperá-lo?
Está a ver, não apanhámos sinais nenhuns. Do longe se fez perto. E aquele comboio foi posto ali para nós.
Se não tivesse passado não me tinha contado essa história triste…
Não é triste, senhora. Menina. Por ser menina a vê triste. Mas se a vir, não a desperdice.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
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4 comentários:
História com um não-sei-o-quê de infinitamente triste.
Mas mesmo triste, os acasos têm destas coisas especiais, a capacidade de partilhar coisas tão pessoais com os outros. Temos de lhes dar espaço - aos acasos - para que possam acontecer.
E foi mais uma conversa com efeito terapêutico, desta vez para o taxista.
É verdade, parece triste. Mas no fundo julgo que não é. Apenas a sensação, que a maioria de nós deve ter, de que perdemos oportunidades na vida. Mas não será ela, a vida, feita disso mesmo? De umas que se perdem, e de outras que se ganham...A pressão de ter de aproveitar tudo para se considerar que a nossa vida é ou foi boa é enorme. Não quero com isto dizer que nos desresponsabilizemos pelo que deixamos fugir. Mas não nos martirizemos por essa escolha. Como diz, e bem, uma das personagens desta história, há oportunidades que surgem porque não aproveitamos outras. Ou se calhar aproveitamo-las de outra forma.
Luis e anónimo, obrigada por exporem as vossas ideias...
Também não considero esta história triste. Será que já não sou menina?
Talvez uma menina grande, que sabe separar algumas coisas! :)
Quanto à tristeza da história, continuo a achar que ela lá está, na personagem, quando esta diz "acho é que tinha sido mais feliz". Não dirá esta frase tudo? Continua a pensar que o passado que não aconteceu teria sido melhor do que o que aconteceu. Isso é que está errado. Claro que todos deixamos oportunidades para trás, e nunca saberemos, com toda a certeza, se a nossa vida teria sido melhor ou pior. Apenas sabemos que poderia, eventualmente, ter sido diferente.
Mas apenas temos o passado concreto, que nos trouxe até ao nosso presente, incluindo as nossas opções e o que não tivemos, estas sobretudo pela forma como as vivemos na altura e pela forma como nos moldaram.
Aprender com as opções do passado, mantendo-as presentes como memórias de vida, que nos permitem crescer, é uma coisa. Pensar que a nossa vida teria sido mais feliz com outras opções, é outra totalmente diferente, que nos leva muitas vezes a ficar insatisfeitos com a nossa vida do presente, e a ter saudades de um passado, que muitas vezes nem sequer aconteceu.
O saudosismo não me parece grande coisa. Ter saudades sim, saudosismo não.
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