Eu conheci-te há 10 anos, na calle St. Gervasi (abertura). Era Dezembro e estava frio e eu ainda não tinha comido nenhum sonho, porque eu vivia num sítio onde não é tradição comê-los, nem mesmo no natal. Eu tinha de imaginar os sonhos, o que pode até parecer um pleonasmo, mas na verdade não é. Eu pensei em guardar-te no silêncio, mas tive medo que morresses ou que pelo contrário permanecesses demasiado vivo, sabemos ambos que os extremos se tocam. Compreendemos isto quando vamos a uma biblioteca, que está cheia de um silêncio pesado. É curioso imaginar que as bibliotecas estão cheias de palavras silenciadas através da escrita. Cá em casa eu também tenho um armário branco cheio de silêncio, onde normalmente guardo as coisas que são tão importantes que, ou são muito vivas, ou morrem de vez. Então eu pensei que podia escrever-te em vez de te falar, guardando-te antes num outro armário, o das palavras escritas. Quando eu te conheci ainda não tinha descoberto que gostava tanto de escrever, e por isso eu falava muito e de uma forma intempestiva, como um furacão
-BlablablablablaVouadiaratuapele10anosblablablablablablabla
sendo que neste texto as falas que te dei vêm marcadas a itálico. Eu acho que escrevo na esperança de chegar à memória original, sem notar que mesmo essa é uma traição à verdade. E o encadeamento das ideias vai ser assim até ao final, pelo menos essa era a minha ideia inicial/
Ainda bem que adiei a tua pele estes 10 anos
sendo que neste texto as palavras escritas que te dei vêm também em itálico mas sem travessão. Mas é Dezembro e está frio e cá, no natal, é tradição comer sonhos. Eu pensei guardar-te no silêncio mas tive medo que morresses ou que pelo contrário permanecesses demasiado vivo, ambos sabemos que os extremos se tocam. Compreendemos isto quando vamos a uma biblioteca, que está cheia de um silêncio pesado. É curioso imaginar que os meus armários estão cheios do teu nome silenciado através das palavras escritas. E o encadeamento das ideias neste texto não será já o que imaginei inicialmente/
estes 10 anos
já sem itálico e sem travessão. Porque eu tenho muitos medos, e um deles é de morrer em ti e outros são por exemplo de ficar sem silêncio ou de trair-nos com as palavras ou então de me esquecer das chaves dentro de casa
anos
ou mesmo dentro mim (fecho).
4 comentários:
Este texto senti-o nos olhos e na garganta. É muito, muito bonito. bt
habituei-me a imaginar os sonhos e por isso não quero imaginar-te
tenho medo de ser só sonho
fechado no armário
e a ele o que lhe aconteceu?
ficou vivo?
morreu
estatelou-se no branco entre laranjas
o buraco na tola
a poça verde que ninguém apanha
a aranha que esgotou a cola
como é linda a tua história
do só não mata porque morreu
como é triste a tua história
fica melhor em canção
porque é só verde da laranja
que está fora da estação
pensei e se eu agora a cantasse?
“e seu agora soltasse as minhas mãos e voasse”?
Rodrigo, tão bom que é que o leias como eu o escrevo. bm
Anónimo, e se voasses? Que "é por vezes mais fácil dizer tudo isto a cantar"...;)
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