segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Relatividade especial

Dra Sininho…

Diga.

Posso fazer-lhe uma pergunta indiscreta?

Pode.

O seu cabelo é mesmo louro?

É importante para si?

Qualquer possível alteração neste momento é importante para mim. Conhece-me, sabe como são estas fases, é muita informação para gerir. Vou-me então certificando, pé ante pé.

São fases difíceis para todos.

Essa estratégia é de normalização. Mas sabe como terá de ser equilibrada com a ideia da minha especificidade, mesmo nas fragilidades. É engraçado, é importante sabermos que somos todos frágeis da mesma forma, mas que até nisso somos únicos. Sou especial para si, dra sininho? Apesar das minhas personagens serem afinal as mesmas que as dos filmes de animação?

Claro. As personagens são as mesmas mas o todo é diferente. O que acha que a fará sentir-se especial comigo? Ou o que lhe faltará para que tal aconteça.

O que fará que as mesmas partes criem todos diferentes? E agora inverteu o processo, dra. Sendo essa pergunta genuína, pergunta-me directamente a minha opinião. Julgo que são coisas pequenas. Desculpe, mantemos conversas paralelas, o que criará alguma confusão. Mas assim condensamos. Se fossemos separar os vários temas poderíamos ocupar mais do que o tempo estipulado, e mais do que o espaço de uma página, e sabe que espaço-tempo é aquele sistema de coordenadas para o estudo da relatividade, geral e especial. Vê como os temas se encaixam sem sequer darmos conta de como isso acontece? Senti-me especial, por exemplo, quando vi as suas lágrimas ao descrever-lhe aquele encontro da Betty Boop com o monstro das bolachas. Na altura balbuciou “que engraçado”. Julgo que sorria também. Mas as suas lágrimas, dra sininho, foram o factor decisivo. Talvez por me terem indicado que naquele momento vivia, de facto, a minha história.

A junção das personagens num todo é sua. Não será criação de uma personagem. Antes algo mais essencial, mais pequeno, mais simples. E porque acha que as lágrimas davam indicação que lá chegava? Ao centro.

Acha que o todo não é uma personagem que contém todas as outras, dra? Hoje está bastante afirmativa. Eu não sou apenas mais uma personagem? As lágrimas mostraram que os seus neurónios empáticos se ligavam à minha história através de um qualquer fio condutor. Aqueles de que falava há um ano atrás e que segundo as notícias são afectados pelos jogos de vídeo. Sabia? As crianças que jogam muito choram menos com as histórias dos outros. E de repente, após as lágrimas, era já a Sininho da minha história. Como sabe? Sobre o todo que não é personagem.

Talvez não saiba. Será outro tipo de neurónios a dar conta que existe sem personagem? Mas além de todas as dúvidas prometo-lhe que, para si, o meu cabelo é mesmo louro.





3 comentários:

Anónimo disse...

Eu gosto das conversas paralelas... :)
E desta escrita também.
E adoro o monstro das bolachas, que no meu tempo, a preto e branco, se chamava o papa-bolachas.

Catarina Rivero disse...

todos sentimos e nos envolvemos nas narrativas em que temos o privilégio de entrar. Assim é o crescimento. Mútuo. Belíssimo Inês ;)

inês disse...

Obrigada anónimo :)

Obrigada Catarina :)

E beijinhos!