Estranho-te. Que se passa?
Até eu estranho o meu silêncio.
Alguma razão concreta?
Julgo que a função da exposição anda a mudar. Mas ainda não terá adquirido nova forma.
Não entendo.
Lembras-te quando me disseste que te contava os pormenores todos? Há já muito tempo.
Não me lembro de todo.
Nessa altura falava que nem uma desbragada. Contava-te o que me tinha acontecido no autocarro, quando quase deixei de respirar ao engasgar-me, ainda me lembro tão bem da mala da escola nesse 8ºano. E que o saco do lixo se tinha rompido no elevador, com o senhor do 4º andar a olhar para mim e para o chão alternadamente. E como tinha acordado nesse dia com um murro no estômago, depois daquele sonho que tinha tido com o Peter Pan a escovar-me o cabelo, que ia caindo, caindo, e ele a dizer com escárnio que o meu cabelo era fraco. Que fraco é o teu cabelo, que fraco é, dizia assim. Eram entretanto muitos Pans, todos a tocar flauta. E tu disseste-me que todos aqueles pormenores não interessavam. Passei a prestar atenção.
A quê?
Aos teus gestos e às tuas palavras. Eles protegiam-me, e não poderia correr o risco de voltar a sentir aquela mágoa. Os meus pormenores eram importantes para mim. Fui metendo as palavras todas para dentro, as minhas e as tuas, e os teus gestos, e a tua pele. Foram muitas palavras e muitas peles e muitos cheiros, e até os cheiros foram engolidos, não foram apenas cheirados, e ficaram todos juntos num silêncio imobilizador. Estás a seguir o processo?
É para isso que cá estou. Para a ouvir.
Pois será. E essa foi uma terceira fase, aquela em que a Dra me ouviu. Eram 50 minutos avassaladores na quantidade de pormenores que sabia irrelevantes mas que, precisava eu, não seriam irrelevantes para si. Entretanto, com o hábito, talvez das férias, deixei mesmo de ter o que quer que fosse para lhe dizer, Dra Sininho. Será que foi o seu papel que mudou? Por ter a certeza que lá está, independentemente do conteúdo? Toda a exposição servirá para isso?
Talvez.
Poderá ser mais afirmativa agora, julgo, e dar-me a sua opinião. Tem sido longo este processo. Sabe que a quantidade de opiniões vai aumentando ao longo das sessões? E vão diminuindo os hum hums. Será este um pormenor interessante? A Dra. também terá aprendido esse equilíbrio, sobre a quantidade de hum hums e de opiniões que poderia aplicar em cada caso. Será que…Dra Sininho, também já sonhou com Peter Pans?
Claro. Os processos são os mesmos. E talvez haja uma outra fase. Em que a exposição adquire outra função.
Interessante, dizia isso no início desta conversa. Quando tentava entender o que significaria o meu silêncio. Que função, Dra. Sininho?
Não seja ansiosa. Descobrirá. Eu sou uma fada, e estou habituada a esperar, porque o meu maior sonho é vir a ter o tamanho dos humanos para poder abraçar o Peter Pan. E isso vai acontecer-me. E isso vai acontecer-lhe.
Até eu estranho o meu silêncio.
Alguma razão concreta?
Julgo que a função da exposição anda a mudar. Mas ainda não terá adquirido nova forma.
Não entendo.
Lembras-te quando me disseste que te contava os pormenores todos? Há já muito tempo.
Não me lembro de todo.
Nessa altura falava que nem uma desbragada. Contava-te o que me tinha acontecido no autocarro, quando quase deixei de respirar ao engasgar-me, ainda me lembro tão bem da mala da escola nesse 8ºano. E que o saco do lixo se tinha rompido no elevador, com o senhor do 4º andar a olhar para mim e para o chão alternadamente. E como tinha acordado nesse dia com um murro no estômago, depois daquele sonho que tinha tido com o Peter Pan a escovar-me o cabelo, que ia caindo, caindo, e ele a dizer com escárnio que o meu cabelo era fraco. Que fraco é o teu cabelo, que fraco é, dizia assim. Eram entretanto muitos Pans, todos a tocar flauta. E tu disseste-me que todos aqueles pormenores não interessavam. Passei a prestar atenção.
A quê?
Aos teus gestos e às tuas palavras. Eles protegiam-me, e não poderia correr o risco de voltar a sentir aquela mágoa. Os meus pormenores eram importantes para mim. Fui metendo as palavras todas para dentro, as minhas e as tuas, e os teus gestos, e a tua pele. Foram muitas palavras e muitas peles e muitos cheiros, e até os cheiros foram engolidos, não foram apenas cheirados, e ficaram todos juntos num silêncio imobilizador. Estás a seguir o processo?
É para isso que cá estou. Para a ouvir.
Pois será. E essa foi uma terceira fase, aquela em que a Dra me ouviu. Eram 50 minutos avassaladores na quantidade de pormenores que sabia irrelevantes mas que, precisava eu, não seriam irrelevantes para si. Entretanto, com o hábito, talvez das férias, deixei mesmo de ter o que quer que fosse para lhe dizer, Dra Sininho. Será que foi o seu papel que mudou? Por ter a certeza que lá está, independentemente do conteúdo? Toda a exposição servirá para isso?
Talvez.
Poderá ser mais afirmativa agora, julgo, e dar-me a sua opinião. Tem sido longo este processo. Sabe que a quantidade de opiniões vai aumentando ao longo das sessões? E vão diminuindo os hum hums. Será este um pormenor interessante? A Dra. também terá aprendido esse equilíbrio, sobre a quantidade de hum hums e de opiniões que poderia aplicar em cada caso. Será que…Dra Sininho, também já sonhou com Peter Pans?
Claro. Os processos são os mesmos. E talvez haja uma outra fase. Em que a exposição adquire outra função.
Interessante, dizia isso no início desta conversa. Quando tentava entender o que significaria o meu silêncio. Que função, Dra. Sininho?
Não seja ansiosa. Descobrirá. Eu sou uma fada, e estou habituada a esperar, porque o meu maior sonho é vir a ter o tamanho dos humanos para poder abraçar o Peter Pan. E isso vai acontecer-me. E isso vai acontecer-lhe.
2 comentários:
hum hum
Ahahahahah :)))))
Gatinha fifi pepe rápido...;)
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