Olá.
Bom dia.
Desculpe, é que estava a olhá-lo, e a constatar que estava no meu sonho de 6ª feira passada.
Como?
O que lhe digo. Tenho fraca memória visual, mas quando reencontro alguém, sei-o. Eu estava a fumar um cigarro e estava comigo, também a fumar.
A menina não fuma.
O senhor não sabe nada sobre mim. Não fumo, mas fumava no meu sonho.
Nunca poderia estar no seu sonho, nunca nos vimos.
Lamento desiludi-lo, mas estava. Aceite. Pode aceitar? O verdadeiro amor está na aceitação. Quando aceitamos que não poderemos compreender tudo. Não pode controlar o meu sonho. O meu sonho é meu.
Não tenho amor por si, não a conheço.
No meu sonho tinha. E nunca sentiu amor por desconhecidos? Às vezes estou nesse estado. Queria agarrá-lo.
A mim?!
Não, ao estado. Já não me agarro a pessoas, mas ainda me tento agarrar a estados. Até constatar que são como as pessoas. Fogem-me. Apesar de eu ter desenvolvido esta minha capacidade de entender o que certos gestos, juntamente com certas palavras e certos silêncios, poderão querer dizer. Por exemplo, esse seu jeito com a mão. E esse olhar desviado quando lhe falo em agarrá-lo. Tinha colocado aqui mais uma ou outra descrição sobre si, mas senti, ou pensei, o leitor sabe que por vezes se confundem, que aumentar o pormenor retira a verdade à ideia. Mas não o quero maçar com as verdades, sei que elas podem ser muito maçadoras. Andam às voltas a maçar, a maçar, podes-me trazer um copo de água, gostas desta roupa nova que trago hoje, e depois uma birra, um pequeno drama, só para nós sabermos que existem. Voltando aos estados. Partilhava noutro dia consigo, chamavas-te Rafa no meu sonho, calculo que de Rafael, partilhava consigo a alegria pela beleza do que nos foge. Saiu-me assim, compreenderás? É o mais perto da verdade que me vem à cabeça. Já quis compreender a beleza, mas assim que tento agarrá-la deixa de existir. Aqui um equilíbrio…porque foi a compreensão que me permitiu apreciar a beleza, inclusivamente a de não compreender.
A menina é louca.
Estava louca por ti no sonho, Rafa. Estávamos os dois loucos a partilhar a beleza da vida. Era tão bom, sentíamos os dois a leveza da transitoriedade. Chorávamos, Rafa, tal era a felicidade de sentir que sentias que eu sentia a mesma coisa. O que se pode pedir mais da vida? Éramos transparentes, creio. Não, invisíveis. Ninguém nos via no jardim, só se via o fumo dos cigarros. A Sra. Miralina comentou até comigo que foi notícia o facto de se ver fumo de tabaco sem corpos que o causassem, e bem sabes que as pessoas procuram as causas para as coisas, ainda mais quando metem fogos e fumos e assim. Mal sabiam eles que tudo isso fazia parte do meu sonho. Dei então corpos ao fumo, também eu caí no erro das outras personagens, e quis compreender. E nesse instante, nesse preciso instante, deixei de te amar, e tu a mim.
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5 comentários:
E dei então corpos ao fumo
E na loucura de tentar compreender
passou a Vida a adormecer
e foi sonho que se fez acontecer!
gostei da verdade do fumo
que existe no estado do sonho
um conversando...depois acordando...
Que leveza boa, baila sem peso! Estava a precisar dela. Obrigada pelo comentário...
Eu prefiro SG gigante, mas às vezes não fumo. Outras vezes também fumo outras coisas como parece que alguém esteve a fumar.
Mensagem para o Tranbiqueiro:
É pena que haja fulanos como você que se orgulham da própria estupidez. Perdeu uma excelente ocasião de estar calado. Ninguém aqui sabia que existia e não lhe sentíamos a falta. Agora sabemos que existe e que é uma besta. Porque é que resolveu abrir a boca?
Bem, é sempre interessante como há pessoas que têm muito menos jeito para piadas que eu... ou então não sabem interpretar textos, é o mal de muitos hoje em dia.
Rodrigo, não o conheço, talvez seja alguém que conhece a escritora do blog ou que, simplesmente, aprecia os textos dela tanto quanto eu, mas não se exalte com este tipo de comentários... não seria nem produtivo, nem agradável haver aqui uma discussão por causa de 'piadas' como essa.
E agora a propósito do texto, fui como de costume vasculhar no arquivo sobre Fernando Pessoa e retirei de lá este excerto (penso que se adequa):
Que foi real em nós?
Que houve em nós de sonho?
De que Nós fomos de que voz
O duplo eco risonho
Que unidade tivemos?
O que foi que perdemos?
Nós não sonhámos. Eras
Real e eu era real.
Tuas mãos — tão sinceras…
Meu gesto — tão leal...
Tu e eu lado a lado...
Isto... e isto acabado...
Como houve em nós amor
E deixou de o haver?
Sei que hoje é vaga dor
O que era então prazer...
Mas não sei que passou
Por nós e acordou...
Amámo-nos deveras?
Amamo-nos ainda?
Se penso vejo que eras
A mesma que és... E finda
Tudo o que foi o amor;
Assim quase sem dor.
Beijinhos ***
Inês
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