Estou sim?
Linha de atendimento SOS 2009.
Bom, eu tenho um problema muito grave.
Diga.
Preciso de falar com alguém antes deste ano acabar.
Diga. Qual é o seu problema?
É esse.
Qual?
Preciso de falar com alguém antes deste ano acabar.
…
Estou?
Sim sim. Desculpe. Estava a pensar o que havia de lhe dizer. E é comigo que quer falar?
Se me ouvir, claro. E se puder dê algum feedback, para ter a certeza que aí está…
Claro.
Um confirmador. Está óptimo. Permite estabelecer empatia. Vou então começar. Prazo de validade. Uma carne óptima, olhava para ela. Um lombo daqueles. Mas o prazo acabava-se em pouco tempo. Comecei então a pensar se seria boa ideia
Hum hum.
Porque não sei se passarei cá os próximos dias. Posso entretanto não comer a carne, o que se torna mesmo muito desagradável, tendo em conta vários factores, como o de haver muita gente com fome e também o de eu ter pouco dinheiro. Não posso desperdiçar as oportunidades. O tempo, o tempo. Incrível como sem querer os textos se ligam com o que vai acontecendo, e digo-lhe que acontece depois de escrever, o que é bastante desconcertante.
Prevê o que vai acontecer?
Está mesmo aí! Não só a ouvir-me, como a tentar compreender-me! É fantástico este vosso sistema. Claro que não peço que me compreenda de facto. Mas confirmadores, reguladores e perguntas…deveríamos aprender a fazer mais perguntas. Não há forma melhor de nos sentirmos compreendidos. Ele dizia-me que me ouvia, e que eu não podia querer que me desse respostas aos problemas. Claro. Confirmo. Mas na realidade não era isso que eu queria. Queria apenas perguntas genuínas, entende? O que eu queria realmente era achar-me na cara dele. Ou, enfim, que me dissesse “claro”, quando lhe perguntava se entendia. Precisava realmente de qualquer coisa, mas não era de uma solução imediata e estúpida. Finge que estás bem, dizia-me. Isto não é de todo estúpido, mas dependerá muito da forma como se diz. A forma, sabia que a forma é o que realmente determina? Os eventos relatados podem ser os mesmos, ou de teor ainda mais negativo do que anteriormente, mas a forma é determinante. Estou absolutamente cheia de dores de barriga hoje, e acho que é porque engoli ar naquele almoço. A conversa do lombo fora de validade começou a enjoar-me. Nem foi bem o conteúdo, digo-lhe, foi a forma desprendida com que enviaram o lombo para o lixo. O modelo que nos foram metendo na cabeça. Já não bastam as hormonas. PARA O LIXO! LOMBO PARA O LIXO! NÃO VÊS O PRAZO? Gritam o modelo em uníssono. ATENÇÃO! URGÊNCIA! CORRE! E eu a esbracejar. E afinal o que é isso de ser feliz? Uma infelicidade a invenção dessa palavra. Felicidade. Sim, é só uma palavra. Não pense que eu digo isto e não sou apanhada, faço é por reinventá-la a cada dia que passa. Um congresso sobre a felicidade, próximo ano, na faculdade. Todos a dizerem mal, totós dos optimistas, e olha. É uma questão de moda, tudo uma questão de moda.
Hum hum.
O último regulador desta conversa. Já estou muito melhor. A Sra foi fantástica. Fico contente de ver que aprendem umas coisas sobre comunicação na faculdade. Mas que tenho eu de ficar contente? Agradeço-lhe apenas. E desejo-lhe um bom ano de 2009. Do fundo do coração.
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Úrsula maior
Não consigo explicar este cansaço que sinto.
É permanente?
Sim. Um peso nos olhos.
Anda a pensar em muitas coisas?
Nem por isso. Ontem, no meio do jardim, senti que precisava apenas daquilo. Um sossego.
O que a impede de fazer isso?
A minha vida. A minha cabeça. Não me permite fazer apenas parte desse conjunto. Rapidamente sinto o barulho dos aviões aqui ao lado. E mesmo quando consigo, fico desprotegida.
Como assim?
As minhas bases são outras. E bem sabe como precisamos de seguranças. Nem que seja do barulho dos aviões. Lembrei-me logo daquele fim de semana no Alentejo, e do espanto que causei nos outros. Uma libertação. Poder correr. Acho muitas vezes que não faço parte deste lugar. Mas logo vem uma parte de mim que diz que sim, que faço. Tenho nós por desatar, Dra. Acha que se os desatar a minha vida vai mudar?
Depende do significado que lhes der. E do modo como os vai gerir.
Tenho a vaga esperança de que tudo se desvaneça quando eu os compreender. Um desejo de simplicidade. Talvez aí saiba o que fazer. Aproveitar o ano novo para mudar a minha vida. Sento-me em frente ao computador para escrever. Ponto um. Não passo daí. Sempre a iminência da mudança. Serei eu que a procuro, não consigo viver sem sentir que me transformo. Uma frustração quando vejo que me repito.
Há coisas que repetirá sempre. Tente aceitá-las. Talvez a estratégia que utiliza não seja a melhor. O tempo, o tempo. Mude, mas dê-se tempo a si mesma.
E como distingo o que devo mudar e o que faz parte de mim? Não quero andar a reboque, ouço. A minha vida teria sido um conto de fadas, mas apareceste tu. Amiga, como hei-de fazer para ela me tratar bem? Trata-te bem a ti. Maria, os meus filhos fazem desenhos horríveis, quererá dizer alguma coisa? Dra, tenho medo dos outros. E a história da sra que viveu 6 meses naquelas condições. Um horror, dizem. E eu a compreender tudo. Aguenta-te sozinha. E o ar a cheirar a lareira, e as casas cheias de gente, se fosse mosca perdia-me, e já assim é o que é. Não és a minha querida porque isso seria injusto. E eu a compreender tudo, a compreender tudo. Não posso dar outra coisa senão insegurança, compreende. A compreender tudo. Não te armes em especial, que eu não aguento, compreende. Devagar, peço. Devagar! grito. Assim, como poderás prestar atenção a todos os sinais?! Observa. Tenho uma Úrsula maior no braço e nem davas conta. Queria crer que esses olhos me chegam cá ao fundo, mas julgo que não é verdade. Se chegassem saberias. Seguramente que saberias. Compreender tudo.
É permanente?
Sim. Um peso nos olhos.
Anda a pensar em muitas coisas?
Nem por isso. Ontem, no meio do jardim, senti que precisava apenas daquilo. Um sossego.
O que a impede de fazer isso?
A minha vida. A minha cabeça. Não me permite fazer apenas parte desse conjunto. Rapidamente sinto o barulho dos aviões aqui ao lado. E mesmo quando consigo, fico desprotegida.
Como assim?
As minhas bases são outras. E bem sabe como precisamos de seguranças. Nem que seja do barulho dos aviões. Lembrei-me logo daquele fim de semana no Alentejo, e do espanto que causei nos outros. Uma libertação. Poder correr. Acho muitas vezes que não faço parte deste lugar. Mas logo vem uma parte de mim que diz que sim, que faço. Tenho nós por desatar, Dra. Acha que se os desatar a minha vida vai mudar?
Depende do significado que lhes der. E do modo como os vai gerir.
Tenho a vaga esperança de que tudo se desvaneça quando eu os compreender. Um desejo de simplicidade. Talvez aí saiba o que fazer. Aproveitar o ano novo para mudar a minha vida. Sento-me em frente ao computador para escrever. Ponto um. Não passo daí. Sempre a iminência da mudança. Serei eu que a procuro, não consigo viver sem sentir que me transformo. Uma frustração quando vejo que me repito.
Há coisas que repetirá sempre. Tente aceitá-las. Talvez a estratégia que utiliza não seja a melhor. O tempo, o tempo. Mude, mas dê-se tempo a si mesma.
E como distingo o que devo mudar e o que faz parte de mim? Não quero andar a reboque, ouço. A minha vida teria sido um conto de fadas, mas apareceste tu. Amiga, como hei-de fazer para ela me tratar bem? Trata-te bem a ti. Maria, os meus filhos fazem desenhos horríveis, quererá dizer alguma coisa? Dra, tenho medo dos outros. E a história da sra que viveu 6 meses naquelas condições. Um horror, dizem. E eu a compreender tudo. Aguenta-te sozinha. E o ar a cheirar a lareira, e as casas cheias de gente, se fosse mosca perdia-me, e já assim é o que é. Não és a minha querida porque isso seria injusto. E eu a compreender tudo, a compreender tudo. Não posso dar outra coisa senão insegurança, compreende. A compreender tudo. Não te armes em especial, que eu não aguento, compreende. Devagar, peço. Devagar! grito. Assim, como poderás prestar atenção a todos os sinais?! Observa. Tenho uma Úrsula maior no braço e nem davas conta. Queria crer que esses olhos me chegam cá ao fundo, mas julgo que não é verdade. Se chegassem saberias. Seguramente que saberias. Compreender tudo.
domingo, 14 de dezembro de 2008
Fim
Boa tarde. Há quanto tempo!
É verdade…Tenho andado bem. Mas ontem senti-me desesperada, por isso lhe telefonei.
Eu entendi. Então?
Não aguento esta oscilação.
Explique-me melhor.
É que já não sinto que seja uma oscilação de humor. Sinto que é uma oscilação entre duas pessoas. Ou entre várias pessoas.
Como assim? Não é apenas outra forma de tratar a oscilação?
Talvez, mas sinto dessa maneira. Como se tivesse duas vidas.
Isso é óptimo, aproveita a dobrar.
Não brinque com isto, Dra.
Desculpe, estava a desdramatizar.
Isso só funciona com uma parte da Rosa. Começo a enlouquecer com a consciência desta separação. Quero voltar a estar tranquila.
Essa Rosa também é apenas uma parte. Vai sentir-se mal quando estiver apenas tranquila.
Mas preciso de uma margem de segurança para poder actuar dentro da intranquilidade. Senão começo a passar-me para o lado de lá. E nos últimos dias tenho-me alimentado disso. Do medo. O que faz com que não haja espaço para mais nada. Tento encher, tento encher, mas tudo me parece ridículo.
Observe-o. Esse medo, não é ridículo também?
É.
De que lhe serve? Que função tem?
A função do sintoma. Não a sabia de primeira ordem. Preenche-me. O medo. O desespero. O drama. Apesar de eu conseguir actuar no outro registo, quando assim é necessário. Estás boa, Rosa? Respondo que estou tranquila, e o que é facto é que estou, dentro dessa personagem. Não é uma questão de fingimento, o pior é que nesse momento sinto isso, o que me desconcerta. Cada vez menos tempo, cada vez menos tempo. O tempo é um conceito, o tempo não existe. E no entanto a Rosa tranquila e a Rosa intranquila vivem dele, e de saberem que a uma se sucederá outra, afinal como tudo na vida, sempre tudo a mudar. Se calhar passo bocados exageradamente longos em cada personagem, e começo a descontrolar-me. Deixa um dedo de fora, Rosa. Ou a cabeça de fora? Passam mesmo a personagens, as Rosas. Desculpa, não tenho conclusão, e tudo se tornaria demasiadamente longo. A conclusão terá de ser simples. Curta. A matar. Mas nesta sessão não consegui chegar à Rosa que queria. Como no conto sistémico, cada um lhe dá o fim que quiser. Sem esforço. Sem esforço. Ele há-de chegar.
É verdade…Tenho andado bem. Mas ontem senti-me desesperada, por isso lhe telefonei.
Eu entendi. Então?
Não aguento esta oscilação.
Explique-me melhor.
É que já não sinto que seja uma oscilação de humor. Sinto que é uma oscilação entre duas pessoas. Ou entre várias pessoas.
Como assim? Não é apenas outra forma de tratar a oscilação?
Talvez, mas sinto dessa maneira. Como se tivesse duas vidas.
Isso é óptimo, aproveita a dobrar.
Não brinque com isto, Dra.
Desculpe, estava a desdramatizar.
Isso só funciona com uma parte da Rosa. Começo a enlouquecer com a consciência desta separação. Quero voltar a estar tranquila.
Essa Rosa também é apenas uma parte. Vai sentir-se mal quando estiver apenas tranquila.
Mas preciso de uma margem de segurança para poder actuar dentro da intranquilidade. Senão começo a passar-me para o lado de lá. E nos últimos dias tenho-me alimentado disso. Do medo. O que faz com que não haja espaço para mais nada. Tento encher, tento encher, mas tudo me parece ridículo.
Observe-o. Esse medo, não é ridículo também?
É.
De que lhe serve? Que função tem?
A função do sintoma. Não a sabia de primeira ordem. Preenche-me. O medo. O desespero. O drama. Apesar de eu conseguir actuar no outro registo, quando assim é necessário. Estás boa, Rosa? Respondo que estou tranquila, e o que é facto é que estou, dentro dessa personagem. Não é uma questão de fingimento, o pior é que nesse momento sinto isso, o que me desconcerta. Cada vez menos tempo, cada vez menos tempo. O tempo é um conceito, o tempo não existe. E no entanto a Rosa tranquila e a Rosa intranquila vivem dele, e de saberem que a uma se sucederá outra, afinal como tudo na vida, sempre tudo a mudar. Se calhar passo bocados exageradamente longos em cada personagem, e começo a descontrolar-me. Deixa um dedo de fora, Rosa. Ou a cabeça de fora? Passam mesmo a personagens, as Rosas. Desculpa, não tenho conclusão, e tudo se tornaria demasiadamente longo. A conclusão terá de ser simples. Curta. A matar. Mas nesta sessão não consegui chegar à Rosa que queria. Como no conto sistémico, cada um lhe dá o fim que quiser. Sem esforço. Sem esforço. Ele há-de chegar.
domingo, 7 de dezembro de 2008
Dois em um
Estou tão perdida…
Então?
Ando aqui às voltas com tanta informação. Estruturas, essências, polaridades, palavras. Há já tempo que estas coisas andavam por aqui a borbulhar. E parece que agora se juntaram todas, numa massa ainda indefinida. Até aquele seminário sobre as polaridades semânticas nas famílias me veio à cabeça. Lembras-te?
Lembro. Comentámo-lo um pouco nesse dia, enquanto comíamos pizza no Prat.
Umas pizzas fantásticas essas. Tenho saudades. Vês, sinto-me tão afastada da realidade. Outra polaridade. Eu e a realidade. Faço parte e não faço parte. Quero voltar a conseguir desfrutar dessas sensações. Conscientemente, e tranquilamente. Mas ter cabeça para as sentir.
Cabeça para as sentir é engraçado.
Mas é a verdade. Quando consigo unir a mente com a sensação mais básica. Tento fazê-lo com estas conversas, e por vezes consigo. Senti-lo. Será a felicidade da mão de que o outro fala?
Se tu o sentes, será o necessário. Um feedback é apenas um feedback. Esta é a tua verdade. Esta água continua má. Eu é que já não noto, ando por aqui há tanto tempo. Sinto muitas vezes que tomei o caminho errado.
Nunca é o caminho errado. É apenas um caminho possível. Fizeste o melhor que podias, a cada momento. Nada de culpas. Desculpa, tomo aqui palavras que não são minhas. Tornaram-se minhas. Ou redescobri-as. Será todo o conhecimento um reconhecimento?
Não entendi esse parágrafo. São várias ideias juntas. Tens de parar essa cabeça, senão torna-se difícil perceber-te.
É que as várias ideias estão juntas. É um trabalho analítico, este de as separar. E parece tornar-se menos verdadeiro quando a faço. A análise. Bem sabes que o todo não é igual à soma das partes. Integrar, integrar. Separo-as para voltar a juntá-las. Há momentos breves em que sinto que o faço. Integrar os dois caminhos. São ambos tu. Sem os dois não faria sentido.
Mas perdi o caminho anterior.
Não…tens consciência dele, de certa forma reganhaste-o. Olho-me repentinamente pelo espelho do computador. Várias vezes me acontece ver uma imagem que julgo não ser eu. Tomo atenção aos pormenores. A curva do olho, a definição da minha boca. Como se estivesse a olhar para um outro que afinal sou eu. Apaixono-me momentaneamente por essa imagem, pelos próprios pormenores. Afinal não é o que fazemos sempre? Descobrimo-nos através dos outros. Os pormenores dos outros. As particularidades dos outros. As qualidades dos outros. Os defeitos dos outros. Que afinal também são nossas. Disse-te que iria mudar de vida, mas não disse que implicações é que isso teria na minha relação contigo. Porque realmente não as sei. Senti cá por dentro que isso iria acontecer. Fosse qual fosse a forma. Caminho entre a luta e a espera. Luto, luto, luto. Por mim. Espero pacientemente, pacientemente, pacientemente. Por mim.
Então?
Ando aqui às voltas com tanta informação. Estruturas, essências, polaridades, palavras. Há já tempo que estas coisas andavam por aqui a borbulhar. E parece que agora se juntaram todas, numa massa ainda indefinida. Até aquele seminário sobre as polaridades semânticas nas famílias me veio à cabeça. Lembras-te?
Lembro. Comentámo-lo um pouco nesse dia, enquanto comíamos pizza no Prat.
Umas pizzas fantásticas essas. Tenho saudades. Vês, sinto-me tão afastada da realidade. Outra polaridade. Eu e a realidade. Faço parte e não faço parte. Quero voltar a conseguir desfrutar dessas sensações. Conscientemente, e tranquilamente. Mas ter cabeça para as sentir.
Cabeça para as sentir é engraçado.
Mas é a verdade. Quando consigo unir a mente com a sensação mais básica. Tento fazê-lo com estas conversas, e por vezes consigo. Senti-lo. Será a felicidade da mão de que o outro fala?
Se tu o sentes, será o necessário. Um feedback é apenas um feedback. Esta é a tua verdade. Esta água continua má. Eu é que já não noto, ando por aqui há tanto tempo. Sinto muitas vezes que tomei o caminho errado.
Nunca é o caminho errado. É apenas um caminho possível. Fizeste o melhor que podias, a cada momento. Nada de culpas. Desculpa, tomo aqui palavras que não são minhas. Tornaram-se minhas. Ou redescobri-as. Será todo o conhecimento um reconhecimento?
Não entendi esse parágrafo. São várias ideias juntas. Tens de parar essa cabeça, senão torna-se difícil perceber-te.
É que as várias ideias estão juntas. É um trabalho analítico, este de as separar. E parece tornar-se menos verdadeiro quando a faço. A análise. Bem sabes que o todo não é igual à soma das partes. Integrar, integrar. Separo-as para voltar a juntá-las. Há momentos breves em que sinto que o faço. Integrar os dois caminhos. São ambos tu. Sem os dois não faria sentido.
Mas perdi o caminho anterior.
Não…tens consciência dele, de certa forma reganhaste-o. Olho-me repentinamente pelo espelho do computador. Várias vezes me acontece ver uma imagem que julgo não ser eu. Tomo atenção aos pormenores. A curva do olho, a definição da minha boca. Como se estivesse a olhar para um outro que afinal sou eu. Apaixono-me momentaneamente por essa imagem, pelos próprios pormenores. Afinal não é o que fazemos sempre? Descobrimo-nos através dos outros. Os pormenores dos outros. As particularidades dos outros. As qualidades dos outros. Os defeitos dos outros. Que afinal também são nossas. Disse-te que iria mudar de vida, mas não disse que implicações é que isso teria na minha relação contigo. Porque realmente não as sei. Senti cá por dentro que isso iria acontecer. Fosse qual fosse a forma. Caminho entre a luta e a espera. Luto, luto, luto. Por mim. Espero pacientemente, pacientemente, pacientemente. Por mim.
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