sábado, 25 de outubro de 2008

Estruturas dissipativas

Terá de ser de chofre. Porque já não sei se é de estar vazia ou demasiado cheia que ando com esta dificuldade. Em falar. E não digam que não é uma conversa, porque os teóricos dizem que é sempre para um outro. Assim que desta vez tem de ser desta forma, João. Vi-vos há bocado aos dois no jardim. Tenho dificuldade em perceber as imagens, não sabia de início se eram dois se um, e depois lá vi a outra cabeça mais claramente. Achei tão bonita a imagem das cabeças tombadas que me perguntei se serei eu que já não me lembro da sensação.

És tu.

Pois serei. Já só penso em estruturas. Lembrei-me agora das estruturas dissipativas, mas não me lembro exactamente do que se trata. Ponho rapidamente a expressão no Google. Sistemas vivos não lineares, afastados do equilíbrio, nos quais a instabilidade leva a novas formas de comportamento e consequentemente novas ordens e estruturas, diferentes das anteriores. A memória é uma coisa esquisita, é engraçado como as coisas se ligam. Ando com demasiada informação na cabeça.

Terás de a ordenar novamente. À informação.

Sim. Mas quero ordená-la de uma forma diferente. E isso só conseguirei com um montante de imprevisibilidade e instabilidade suficientes. Espero é que não sejam suficientes para me desestruturar tudo o resto. Telefona, marca, envia os papéis, faz o relatório, documentários, fotografias, teatro, análise da sessão, entrevistas, júris, orçamentos, cinema, música, aproveita que isto não dura sempre e estamos em crise. Tu já viste, Guida? Hoje não me apeteceu sair da cama. Estarei a deprimir? Mal pus a hipótese levantei-me logo.

É a chegada do inverno. Só isso.

Só isso? O “só” é mal aplicado se “isso” me provocar estados depressivos.

Significa que estás bem. Teres-te levantado. Estás mesmo diferente.

Parece que sim. Vejo-o concretamente por aqui. Aliás, é o que tiro de melhor desta situação, a constatação da outra que afinal sou eu. Disse-me que bem sabia que eu existia escondida, lá no fundo. Eu fiquei contente, claro, mas comecei a pensar nisto dos fundos e como podia conciliar as minhas considerações teóricas com o bom que era ouvir o que ela me dizia. Que o meu verdadeiro fundo tinha vindo finalmente de novo ao de cima. Não podia simplesmente dizer “mentira! Isso não existe”. E eliminar o gozo que me dá sentir que isso é verdade. Mesmo que seja uma invenção. Quero poder gozá-la, que afinal é para isso que ela serve. Falo da invenção do fundo. Ou das estruturas. E se pensarmos, as teorias da mudança pressupõem uma transformação para algo definido, organizado. Dizer que não há definição parece-me um contra-senso. É com hífen, não é? Vou tentando conglomerar os vários fundos num só.

O que pretendes com estes discursos?

Não sei bem. Talvez reorganizar. Ou que as palavras se reorganizem por mim e formem novos estados. Mais claramente ou conscientemente organizados. Provisoriamente, e quem sabe até quando, encontro-me assim.

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