Terá de ser de chofre. Porque já não sei se é de estar vazia ou demasiado cheia que ando com esta dificuldade. Em falar. E não digam que não é uma conversa, porque os teóricos dizem que é sempre para um outro. Assim que desta vez tem de ser desta forma, João. Vi-vos há bocado aos dois no jardim. Tenho dificuldade em perceber as imagens, não sabia de início se eram dois se um, e depois lá vi a outra cabeça mais claramente. Achei tão bonita a imagem das cabeças tombadas que me perguntei se serei eu que já não me lembro da sensação.
És tu.
Pois serei. Já só penso em estruturas. Lembrei-me agora das estruturas dissipativas, mas não me lembro exactamente do que se trata. Ponho rapidamente a expressão no Google. Sistemas vivos não lineares, afastados do equilíbrio, nos quais a instabilidade leva a novas formas de comportamento e consequentemente novas ordens e estruturas, diferentes das anteriores. A memória é uma coisa esquisita, é engraçado como as coisas se ligam. Ando com demasiada informação na cabeça.
Terás de a ordenar novamente. À informação.
Sim. Mas quero ordená-la de uma forma diferente. E isso só conseguirei com um montante de imprevisibilidade e instabilidade suficientes. Espero é que não sejam suficientes para me desestruturar tudo o resto. Telefona, marca, envia os papéis, faz o relatório, documentários, fotografias, teatro, análise da sessão, entrevistas, júris, orçamentos, cinema, música, aproveita que isto não dura sempre e estamos em crise. Tu já viste, Guida? Hoje não me apeteceu sair da cama. Estarei a deprimir? Mal pus a hipótese levantei-me logo.
É a chegada do inverno. Só isso.
Só isso? O “só” é mal aplicado se “isso” me provocar estados depressivos.
Significa que estás bem. Teres-te levantado. Estás mesmo diferente.
Parece que sim. Vejo-o concretamente por aqui. Aliás, é o que tiro de melhor desta situação, a constatação da outra que afinal sou eu. Disse-me que bem sabia que eu existia escondida, lá no fundo. Eu fiquei contente, claro, mas comecei a pensar nisto dos fundos e como podia conciliar as minhas considerações teóricas com o bom que era ouvir o que ela me dizia. Que o meu verdadeiro fundo tinha vindo finalmente de novo ao de cima. Não podia simplesmente dizer “mentira! Isso não existe”. E eliminar o gozo que me dá sentir que isso é verdade. Mesmo que seja uma invenção. Quero poder gozá-la, que afinal é para isso que ela serve. Falo da invenção do fundo. Ou das estruturas. E se pensarmos, as teorias da mudança pressupõem uma transformação para algo definido, organizado. Dizer que não há definição parece-me um contra-senso. É com hífen, não é? Vou tentando conglomerar os vários fundos num só.
O que pretendes com estes discursos?
Não sei bem. Talvez reorganizar. Ou que as palavras se reorganizem por mim e formem novos estados. Mais claramente ou conscientemente organizados. Provisoriamente, e quem sabe até quando, encontro-me assim.
sábado, 25 de outubro de 2008
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Desencontros transparentes
Gostas?
Gosto. Mas não têm pessoas.
Pois não.
Porquê?
Não sei. Deve ser medo. Não quero que fiquem marcas.
Ora, mas não és tu que dizes que as marcas são bonitas? E necessárias.
É verdade. Mas também eu não quero sofrer. E o que digo, sobretudo, é que não podemos deixar de viver. Sempre com um pé atrás, sempre com um pé atrás.
Engraçado, há bem pouco tempo alguém se queixava de mim no sentido contrário. Será talvez melhor os dois pés lado a lado. O que não quer dizer que não dês tudo, ou que não te dês todo. Põe quanto és no mínimo que fazes. Por acaso pergunto-me como conjugar as duas coisas. Teremos de ter a transbordar. Tenho a sensação de que quando o pé está à frente, também não será bom sinal. Parece que damos, mas o que realmente queremos é ir buscar.
Antes de darmos um ao outro, se calhar temos de nos dar a nós mesmos.
Não podia estar mais de acordo.
Achas que só pode dar quem recebeu? É uma dúvida que tenho.
Bom, esse foi tema de um texto antigo. Ainda não fazias parte da minha vida. Estes encontros, e até os desencontros, às vezes não parecem acaso. Mas não, acho difícil alguém dar sem ter recebido. No entanto, passados estes dias, comecei a pensar que a resposta não seria tão imediata. Pode ser que a consciência do que se passa nos permita auto-enchermo-nos, ainda que no passado não tenhamos recebido. Essa sim, julgo que é condição essencial. Para dar.
Dar e receber. No fundo é o que andamos todos aqui a fazer. Seja qual for a forma.
É verdade. A melhor coisa do mundo. Dar. Mais do que receber. Ouvi isto quando tinha 12 anos, e julgo que agora entendo. Tenho muita pena. De te ter encontrado neste tempo e neste espaço. Tem seguramente a sua função, para mim e para ti. E as condições estão sempre a mudar. Desculpa, lá começo eu a chorar. Ando assim, uma esponja. Tudo me comove.
Não peças desculpa por isso. É uma bonita imagem, a de alguém a expor-se e ao que sente. Um sinal de coragem. Comove-me a tua transparência.
Tiras-me uma fotografia? Acho que é do que mais gostas. De fotografias. Talvez consigas captá-la. À minha transparência. Nunca pares de o fazer.
Gosto. Mas não têm pessoas.
Pois não.
Porquê?
Não sei. Deve ser medo. Não quero que fiquem marcas.
Ora, mas não és tu que dizes que as marcas são bonitas? E necessárias.
É verdade. Mas também eu não quero sofrer. E o que digo, sobretudo, é que não podemos deixar de viver. Sempre com um pé atrás, sempre com um pé atrás.
Engraçado, há bem pouco tempo alguém se queixava de mim no sentido contrário. Será talvez melhor os dois pés lado a lado. O que não quer dizer que não dês tudo, ou que não te dês todo. Põe quanto és no mínimo que fazes. Por acaso pergunto-me como conjugar as duas coisas. Teremos de ter a transbordar. Tenho a sensação de que quando o pé está à frente, também não será bom sinal. Parece que damos, mas o que realmente queremos é ir buscar.
Antes de darmos um ao outro, se calhar temos de nos dar a nós mesmos.
Não podia estar mais de acordo.
Achas que só pode dar quem recebeu? É uma dúvida que tenho.
Bom, esse foi tema de um texto antigo. Ainda não fazias parte da minha vida. Estes encontros, e até os desencontros, às vezes não parecem acaso. Mas não, acho difícil alguém dar sem ter recebido. No entanto, passados estes dias, comecei a pensar que a resposta não seria tão imediata. Pode ser que a consciência do que se passa nos permita auto-enchermo-nos, ainda que no passado não tenhamos recebido. Essa sim, julgo que é condição essencial. Para dar.
Dar e receber. No fundo é o que andamos todos aqui a fazer. Seja qual for a forma.
É verdade. A melhor coisa do mundo. Dar. Mais do que receber. Ouvi isto quando tinha 12 anos, e julgo que agora entendo. Tenho muita pena. De te ter encontrado neste tempo e neste espaço. Tem seguramente a sua função, para mim e para ti. E as condições estão sempre a mudar. Desculpa, lá começo eu a chorar. Ando assim, uma esponja. Tudo me comove.
Não peças desculpa por isso. É uma bonita imagem, a de alguém a expor-se e ao que sente. Um sinal de coragem. Comove-me a tua transparência.
Tiras-me uma fotografia? Acho que é do que mais gostas. De fotografias. Talvez consigas captá-la. À minha transparência. Nunca pares de o fazer.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Redescobrir (clique aqui)
Já viste esta gaveta?
Essa ainda não.
Está cheia de papéis e de recortes de jornal. Cartas, e rascunhos de cartas.
O que dizem?
Contam histórias. Sabes como adoro estas coisas. Fico com a visão do conjunto e do individual. Descobrir as pessoas comove-me. Mais ainda quando têm alguma ligação comigo.
Porque achas que temos essa necessidade? De conhecer a nossa história, que afinal nem é nossa?
Bem, nem toda a gente deve ter essa necessidade.
Julgo ser bastante geral. Muitas pessoas vão à procura das origens.
Raízes. Fazem parte da tua identidade. Um tema muito presente por aqui. Que anda a par e passo com o da mudança, parece-me. Memórias que talvez nos ajudem a sentirmo-nos nós. Somos vários. No entanto julgamo-nos um.
Parece que tem a ver com a confiança entre as pessoas.
Como assim?
Bom, não sei será a razão. Ou sequer uma das razões, mas faz-me sentido. Definires-te como algo estável permite aos outros saberem com o que contam, e estabeleceres relações de confiança. Agora que penso nisso, será que este meu gosto em perceber as pessoas tem a ver com a necessidade de controlo?
É melhor dizeres estabilidade. Ou previsão. Controlo parece patológico.
É bastante estranho pensar que tudo se resume a isso. Há quem diga que somos todos cebolas. Que imagem feia esta das cebolas. Enfim, algo com várias camadas. Vais descascando, e ao contrário do que pensas não sobra nada. Ou sobram as várias capas todas soltas. Talvez a estabilidade esteja naquilo que as une. Uma espécie de rede que as liga.
Achas então que não existe núcleo…
Acho que acaba por ser construído algo que se mantém, e gosto mais da imagem da rede. Lembro-me de um dia, naquele jogo dos animais, me atribuírem um camaleão. Não sei se não terás sido tu! Fiquei estranhamente triste, talvez por ter entendido que me queriam dizer que não era constante. Disseram-me entretanto que a imagem era de flexibilidade e adaptação. Já viste como as palavras mudam tudo?
Mesmo tudo. Será que a rede é feita delas? Das palavras.
Por favor, não saltes agora para o tema das palavras. É tão tarde, e ainda não fizemos metade do que devíamos. Vê o que encontrei aqui.
Essa ainda não.
Está cheia de papéis e de recortes de jornal. Cartas, e rascunhos de cartas.
O que dizem?
Contam histórias. Sabes como adoro estas coisas. Fico com a visão do conjunto e do individual. Descobrir as pessoas comove-me. Mais ainda quando têm alguma ligação comigo.
Porque achas que temos essa necessidade? De conhecer a nossa história, que afinal nem é nossa?
Bem, nem toda a gente deve ter essa necessidade.
Julgo ser bastante geral. Muitas pessoas vão à procura das origens.
Raízes. Fazem parte da tua identidade. Um tema muito presente por aqui. Que anda a par e passo com o da mudança, parece-me. Memórias que talvez nos ajudem a sentirmo-nos nós. Somos vários. No entanto julgamo-nos um.
Parece que tem a ver com a confiança entre as pessoas.
Como assim?
Bom, não sei será a razão. Ou sequer uma das razões, mas faz-me sentido. Definires-te como algo estável permite aos outros saberem com o que contam, e estabeleceres relações de confiança. Agora que penso nisso, será que este meu gosto em perceber as pessoas tem a ver com a necessidade de controlo?
É melhor dizeres estabilidade. Ou previsão. Controlo parece patológico.
É bastante estranho pensar que tudo se resume a isso. Há quem diga que somos todos cebolas. Que imagem feia esta das cebolas. Enfim, algo com várias camadas. Vais descascando, e ao contrário do que pensas não sobra nada. Ou sobram as várias capas todas soltas. Talvez a estabilidade esteja naquilo que as une. Uma espécie de rede que as liga.
Achas então que não existe núcleo…
Acho que acaba por ser construído algo que se mantém, e gosto mais da imagem da rede. Lembro-me de um dia, naquele jogo dos animais, me atribuírem um camaleão. Não sei se não terás sido tu! Fiquei estranhamente triste, talvez por ter entendido que me queriam dizer que não era constante. Disseram-me entretanto que a imagem era de flexibilidade e adaptação. Já viste como as palavras mudam tudo?
Mesmo tudo. Será que a rede é feita delas? Das palavras.
Por favor, não saltes agora para o tema das palavras. É tão tarde, e ainda não fizemos metade do que devíamos. Vê o que encontrei aqui.
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