quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Acrescentos

Bom dia Dra!

Bom dia! Mas que boa disposição…

Hum, não sei se lhe diga a verdade ou não.

Então? Sobre o quê?

Sobre a minha disposição.

Mas não é para isso que aqui está?

Sinceramente, já não sei bem…porque ando por aqui. E na verdade ando a sentir-me bastante irritada. Por estas conversas nossas andarem a revelar-se tão importantes para mim. Esta minha dificuldade no corte deixa-me apreensiva.

É natural, sobretudo com a sua história.

Ah, quer dizer que não acontece sempre assim.

Não.

Porque acha que me sinto tão mal? Com este…desmame. Não é assim que lhe chamam? Ando sempre com medo de que esta relação se tenha tornado demasiado importante. E sinto como se vir aqui fosse uma fraqueza minha.

Por que há-de considerar “conversar” uma fraqueza?

Porque me há-de faltar um dia. Porque toda a gente falta, ainda que sempre lá. Não sei se esta será a verdade ou se é uma aprendizagem incorrecta. Perdão, não é a aprendizagem que é incorrecta, é a generalização da aprendizagem. Fico com medo de me perder de um caminho que me parecia o correcto. A consciência da solidão.

O medo é adaptativo. A chave é controlá-lo. Já falámos sobre isso.

Estou cansada de ter comportamentos adaptativos. Mas que peso. Tudo é adaptativo. O medo é adaptativo, mas controla. Amar é adaptativo, mas controla. Falar é adaptativo, mas controla. Comer é adaptativo, mas controla. Desarrumar é adaptativo, mas controla. Dar é adaptativo, mas controla. Receber é adaptativo, mas controla. Não quero controlar nada, nem ter consciência de nada. Ser, sem pensar no que devo ser, por mim e pelos outros. Porque hei-de ter medo de lhe contar que durmo com as meias a segurar as calças? E de lhe dizer que gosto tanto de favas com morcela? Porque hei-de ter medo de falar consigo, e de que isso se torne demasiado importante?

Porque estamos absolutamente sozinhos. Julgo que essa aprendizagem é generalizável. Ainda que a nossa realidade esteja na relação com o mundo. Tenho mudado muito mas nisso ainda acredito.

Não entendo. Defende que o significado vem da relação, mas que no fundo estamos sós. Como conjuga as duas coisas? Que significado ganham os outros na nossa vida? Que significado tem na minha vida?

Ai páre mulher! Que me deixa ansiosa! Tantas perguntas! O que é que eu sou? Julgo que lhe sou essencial. Como muitas outras pessoas na sua vida. Com a consciência, sua, de que sou só um acrescento.

1 comentário:

Ruben disse...

Um acresecento num tempo e num espaço!
Como te percebo, mulher.
Atira-te! se te apetecer, estuda reacções, caso contrário vive o mergulho. Não meças tudo.