sexta-feira, 19 de março de 2010

O gato humano

Meu bem, estive a pensar em tudo o que me disseste. Inclusivamente quando estava hoje na massagista, que me disse que todos estes músculos estavam fora do lugar, não havia eu de sentir-me estranha. Nem eu nem o outro, já dizia o poeta. Eu disse-lhe que tudo isso era natural e confessei-lhe, em tom de brincadeira para que não se assustasse com a dura realidade, que na verdade eu era um gato mascarado de humano.

E que te disse ela?

A sra. massagista permaneceu uns minutos em silêncio, mas sempre a mexer-me aqui na cervical, que foi uma forma de continuar a comunicação. Fez bem, poderia ter-se transformado num momento constrangedor para ambas. Eu insisti na fantasia, porque precisava urgentemente de uma qualquer explicação para esta estranheza: verdade! dra sra massagista, eu sou um gato à procura do seu corpo! E pumbas, mais uma pressão aqui, na C2. Inverti então a marcha, há que respeitar o tempo de transformação de cada um.

Devia fazer reeducação postural, e muito trabalho de corpo.

E eu suspeitei então que parte dela gostaria de explorar a cena do gato, que afinal não é todos os dias que presenciamos este tipo de loucura, nua e crua. É interessante meu bem, porque os gatos têm aquela flexibilidade que me permitiria seguir aquele sonho de que falávamos outro dia, na formação. E se de repente tudo isso fosse real? Afasto rapidamente esse pensamento, não se estragam sonhos assim, tornando-os possibilidades neste nosso mundo. Imagina tu que todo o nosso inconsciente, colectivo e individual, era descoberto. Que nos restaria? De modo que eu teimo em manter algumas profundezas, fingindo até por vezes que não as vejo quando insistem em aceder à superfície. E além disso fixar a ficção/os conteúdos espongiformes (riscar o que não interessa) dá trabalho, meu bem, dá-me por favor um descanso, dá-lhe tu hoje banho que eu agora só quero sentir as mãos da dra sra massagista.

Estão atrofiados e libertam toxinas, entende? A massagem dá um certo alívio mas são muitos anos de maus hábitos posturais.

São muitos são, meu bem. Embora vendo com outros olhos, se construirmos a realidade numa escala mais universal, tendo em conta por exemplo o tempo em anos luz daqui ao sol, tantos anos são praticamente equivalentes a zero, que é como quem diz que afinal é como se tudo começasse agora, neste instante. É a sério e é agora. Melhor, numa escala universal eu posso começar do zero mas com 32 anos de maus hábitos posturais, e este é um sonho tão estonteante que só poderá ficar entre nós, minha sra dra massagista. Toca a calar o sonho, que bem sabes basta mudar o contexto para que as coisas adquiram nova função, e afinal esta que inventámos para o sonho que é a de comandar a vida é bem bonita, não? E se ele se tornasse realidade eu teria de decidir. E eu sei lá se quero recomeçar gato ou humano.

4 comentários:

Anónimo disse...

http://massagemwork.blogspot.com

Beijinhos!

Anónimo disse...

http://massagemwork.blogspot.com/

Beijinhos!

melro disse...

estou aqui a ler-te e já estiquei as costas. também quero regressar às massagens, sabem tãããão bem!

inês disse...

Obrigada anónimo :) Mas fica para outra altura, que eu agora não quero compreender mais nada, só quero sentir as mãos da dra massagista...;)

Melro, voltar...?! Quer dizer que já tiveste...várias? Que sorte a tua. Eu tive esta agora e soube-me tão a pouco...snif.

Bjs aos dois