segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Esquadros

Boa tarde.

Boa tarde.

Queria uma folha de papel cavalinho, por favor. E um lápis.

Que número, menina?

Queria um lápis para desenhar.

Quer desenhar com traços largos ou mais finos?

Largos, para ver se não me perco em perfeccionismos. No entanto, se usar um traço mais largo talvez tenha de ser mais precisa. Como as palavras, vão entrando umas dentro das outras, o que faz com que a última seja mais abrangente, mas ao mesmo tempo terá de significar exactamente aquilo que eu quero dizer, e nesse sentido é mais fina. Desculpe, estava aqui a pensar, e se calhar é melhor um lápis com um número mais baixo.

Leva um 2B.

Histórias tão cheias que ficam como esta folha de papel cavalinho em branco, embora possa parecer estranho o conceito. De um branco cheio, entendes? Absolutamente cheio de pormenores. Se experimentares e começares a apagar, começarão a aparecer formas. É verdade, bicho! E a certo ponto são já tantas que se torna confuso. Tantos traços, meu deus, e aqui faço um trocadilho entre os traços do lápis e os traços característicos das pessoas. Bombardeios de personagens com as mais variadas formas, e elas surgem todas sempre ao mesmo tempo, todos sabemos que nuns dias o telefone nunca toca e nos outros não pára, cheio de novas informações ou antigas que se actualizam, e nós a dizer para dentro ao universo que afinal pedimos mal, queremos sossego outra vez. Desculpe, também queria uma borracha.

Verde ou branca?

Branca. Tudo branco e sossegado, quietas, ordeno! ou desligo o telefone. Mas elas saltam-me do papel, quase independentes da minha borracha branca branca. Os meus desenhos da escola ficavam sempre todos esborratados, sabes quando o carvão se espalha? porque às vezes sou trapalhona e a minha mão passava sem querer por cima do que já estava feito, e eu depois tentava apagar o esborratado e ficava sempre com menos um bocado da forma original. Pior ainda quando as formas originais eram geométricas, porque se notava mais o sujo. Tem esquadros baratos?

Estão nesta montra. Vou atendendo este senhor enquanto decide.

Então, quando o branco já está muito apagado e a folha de papel cavalinho está quase preta de tanto carvão, começamos de novo a apagar aquelas formas todas que surgiram, como um escultor a retirar pedaços da pedra. Vê, os dois processos são iguais mas com consequências opostas. Será que andaremos sempre nisto vida fora, apagando, apagando, ora o preto ora o branco? Eu adoro, mas é bastante cansativo, e às vezes não sei qual dos processos hei-de escolher. Terei de me calar agora, porque senão esta folha fica muito cheia de caracteres, que aqui é quase o mesmo que dizer letras, há apenas um número pelo meio. E depois eu terei de ir retirando palavras, não imaginas quantas vezes já carreguei no delete durante este tempo todo. Foi tanto tanto tempo que o sr. já atendeu as outras pessoas todas. E eu ainda não me decidi.


3 comentários:

fifi disse...

quanto mais Bs mais esborratados. quanto mais Hs mais duros e frios e muito H tens de fazer muita força para riscar. HB é o do meio, mas também prefiro os Bs.

inês disse...

Fifi artista...:) Nós gostamos é do esborratanço, pois claro. E vê lá se nos presenteias entretanto com uns desenhos, que temos saudades.

Bjs

m_a disse...

http://melroazul.wordpress.com/

piupiupiu :)