Peço-lhe que nos explique o que fazia na floresta nesse dia.
Brincava, sr. juiz.
(Revolta no tribunal)
Mentira! Sr. juiz, não acredite numa única palavra! Vimo-la com espadas, espadas a sério, não de brincar!
Ordem! Tem testemunhas?
Apenas as outras personagens. Talvez os duendes apareçam se os chamar.
Chamá-los-ei então. Duendes!
(silêncio expectante no tribunal)
Desculpe sr juiz, mas as personagens dela não respondem a ordens, só a pedidos genuínos.
E como se faz isso?
Terá talvez de começar com uma afirmação interna que reflicta o seu querer e intenção, como esta
- quero que os duendes me ajudem a encontrar a verdade
Em seguida terá de colocar esta afirmação sob a forma de pergunta,
- duendes, podereis aparecer junto a este tribunal, como testemunhas da menina, para que se descubra a verdade e não menos que a verdade?
E esta é a maneira que a vida encontra de continuar a passar, através das nossas perguntas.
Louca! (insurge-se uma das personagens reais deste texto imaginado). Defende-se com ambiguidades poéticas. Exige-se justiça! Queremos factos, descrições neutras, que prove por a mais b que não feriu ninguém com as suas espadas! Que nos diga o que faz com elas nesse mundo encantado. Diz!
Diz! (gritam em uníssono)
Alto! Quem lhes deu permissão para interrogarem a ré?
Olhai para as suas vestes, é Morgana, a rainha! Para que foi ela desencantar uma personagem mitológica? Não bastavam os duendes para confundir o leitor?!
(Rebuliço no tribunal)
Diz-nos, rainha, a que mundo pertences? Quem é o teu criador?
Ooh, não vos sei responder, foi há séculos que nasci, as versões são muitas e o tempo faz por vezes confundir o criador com a obra. Confesso perante este tribunal que esta espada é minha, emprestei-a à menina. Condenai-me a mim se precisardes de um culpado nesta história.
Ooooooooooooooooh (novo uníssono. E novo silêncio)
Rainha, não vos culpeis, é minha a responsabilidade. Precisava de entregar algo a uma das personagens que terá sido cuidadosamente colocada do outro lado da montanha. Rezei então durante sete longos anos (foi o meu pai que me ensinou a rezar, mas a meu pedido, que eu gostava da ladainha), que é o mesmo que dizer que fui respondendo às perguntas que a floresta me fazia, distraindo-me dessa forma de todas as dificuldades, e mantendo-me a caminhar.
Para que queria ela que caminhasses?
Ora, talvez por saber que esse é o único objectivo. E talvez vos ajude a diminuir a ansiedade saber que tudo isto é apenas imaginação minha, caro personagem. Perguntou-me (a floresta!) tantas vezes o meu nome, incrível como se torna difícil responder a algo aparentemente automático quando estamos concentrados noutras tarefas. Experimenta por exemplo dizer o teu nome completo enquanto tocas piano. Atravessei rios e vales e tempestades e nos piores momentos
- Como te chamas?
E com isto cheguei, e entre lágrimas desci do meu cavalo e com a espada rasguei as palavras que afinal eram ruído e disse-lhe (ou gritei?), já com toda a floresta como plateia: Menina! Eu sou a Menina!
(Revolta no tribunal)
Mentira! Sr. juiz, não acredite numa única palavra! Vimo-la com espadas, espadas a sério, não de brincar!
Ordem! Tem testemunhas?
Apenas as outras personagens. Talvez os duendes apareçam se os chamar.
Chamá-los-ei então. Duendes!
(silêncio expectante no tribunal)
Desculpe sr juiz, mas as personagens dela não respondem a ordens, só a pedidos genuínos.
E como se faz isso?
Terá talvez de começar com uma afirmação interna que reflicta o seu querer e intenção, como esta
- quero que os duendes me ajudem a encontrar a verdade
Em seguida terá de colocar esta afirmação sob a forma de pergunta,
- duendes, podereis aparecer junto a este tribunal, como testemunhas da menina, para que se descubra a verdade e não menos que a verdade?
E esta é a maneira que a vida encontra de continuar a passar, através das nossas perguntas.
Louca! (insurge-se uma das personagens reais deste texto imaginado). Defende-se com ambiguidades poéticas. Exige-se justiça! Queremos factos, descrições neutras, que prove por a mais b que não feriu ninguém com as suas espadas! Que nos diga o que faz com elas nesse mundo encantado. Diz!
Diz! (gritam em uníssono)
Alto! Quem lhes deu permissão para interrogarem a ré?
Olhai para as suas vestes, é Morgana, a rainha! Para que foi ela desencantar uma personagem mitológica? Não bastavam os duendes para confundir o leitor?!
(Rebuliço no tribunal)
Diz-nos, rainha, a que mundo pertences? Quem é o teu criador?
Ooh, não vos sei responder, foi há séculos que nasci, as versões são muitas e o tempo faz por vezes confundir o criador com a obra. Confesso perante este tribunal que esta espada é minha, emprestei-a à menina. Condenai-me a mim se precisardes de um culpado nesta história.
Ooooooooooooooooh (novo uníssono. E novo silêncio)
Rainha, não vos culpeis, é minha a responsabilidade. Precisava de entregar algo a uma das personagens que terá sido cuidadosamente colocada do outro lado da montanha. Rezei então durante sete longos anos (foi o meu pai que me ensinou a rezar, mas a meu pedido, que eu gostava da ladainha), que é o mesmo que dizer que fui respondendo às perguntas que a floresta me fazia, distraindo-me dessa forma de todas as dificuldades, e mantendo-me a caminhar.
Para que queria ela que caminhasses?
Ora, talvez por saber que esse é o único objectivo. E talvez vos ajude a diminuir a ansiedade saber que tudo isto é apenas imaginação minha, caro personagem. Perguntou-me (a floresta!) tantas vezes o meu nome, incrível como se torna difícil responder a algo aparentemente automático quando estamos concentrados noutras tarefas. Experimenta por exemplo dizer o teu nome completo enquanto tocas piano. Atravessei rios e vales e tempestades e nos piores momentos
- Como te chamas?
E com isto cheguei, e entre lágrimas desci do meu cavalo e com a espada rasguei as palavras que afinal eram ruído e disse-lhe (ou gritei?), já com toda a floresta como plateia: Menina! Eu sou a Menina!