sexta-feira, 31 de julho de 2009

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Cathy (clique aqui)

Há cinema nas conchas hoje.

Hoje não posso. E nunca nos encontraríamos. Não te conheço.

E sabes, o cinema nas conchas é maravilhoso, porque estamos no meio das árvores, e está um ligeiro fresco à noite.

Tens um sítio fixo para escrever? Qual é o teu perfil? Tens de acrescentar informação ao teu perfil.

Sentes-te parte de algo maior. E há o barulho das rãs juntamente com o barulho do ecrã gigante. Impressionou-me o silêncio das pessoas. Andaremos todos desejosos de silêncio? Deve ser a minha vontade que o sentimento seja geral. É geral?

Andamos todos cansados, sim. É o fim do ano lectivo.

Gostava de conhecer o Rodrigo Leão.

Tens sabido do João? Porque choras?

Choro sempre a ouvir esta música. É tensa mas calma, entendes? Ando comovida com tudo, o que queres. Comovo-me a olhar para a planta, e a contar os fios dos nervos e a ver forma que assumiu para ir de encontro à luz. Comigo a gostar do filho do João. Com os jaquinzinhos que estavam tão bons. Com o teu cabelo despenteado.

Eu não tenho o cabelo despenteado. Que idade tens?

Tinhas sim, o cabelo despenteado. Sou uma criança, não podia pôr isso no perfil. Será possível chorar de ternura? Sabes que associo sempre a palavra cordeiro à palavra ternura? Será pela semelhança fonética, ou pelo significado que atribuo ao bicho?

Não há nada que se coma em tua casa? Estou cheio de fome. Por falar em bichos.

Tudo continua, tudo continua sempre. A tua fome, as árvores, os sons, o sono. Apesar de tudo mudar, inclusivamente eu, que já aprendi a gostar de uma certa oscilação. Agora que penso, será o facto de se manterem que me faz achá-los fantásticos? À tua fome, às árvores, aos sons, ao sono. Como se me protegessem. Acharei belo o que é perene? Comover-me-ei com o transitório por contraposição ao que é eterno? Será natural esta minha alienação, esta minha estranheza? Já não sei qual dos estímulos me provocou esta reacção, a minha amígdala resolveu disparar e eu nem sei porquê. Talvez o teu amor, ou a música do Rodrigo Leão, ou a minha fome, ou o meu cordeiro, que por sinal está óptimo, come-o. Ando a falar bastante em comida nos meus textos, notaste? Tens este efeito em mim, fazes-me disparar a amígdala de cada vez que te vejo, como se fossem todos os estímulos de toda a minha vida em conjunto a saírem num jacto. Bem sei que sou melodramática, mas ando a precisar de um certo romantismo. São muitos anos a andar para a frente, a andar para a frente. Foi tanto tempo que me apaixonei pela minha planta, e pela tua fome, e pela minha árvore, e pelo meu sono. Como uma tensão tão grande que se acumula e sai para todos os lados, basta tocar-me ao de leve, ou sentir-me de manhã quando acordo. Penso e sinto as várias partes do corpo, e o lençol a passar-me pela pele pela pele. Apesar de tudo mudar, tudo mudar sempre. Apesar da angústia. É um conforto a minha pele no lençol.

sábado, 11 de julho de 2009

Associação livre

Bom dia Dra.

Bom dia Rosa. Conte-me, trouxe-me o trabalho de casa?

Trouxe sim.

Então diga-me. Nome.

Eva.

Onde vive.

Na Austrália.

Porquê na Austrália?

Porque imagino os cangurus.

Quais são as cores predominantes?

Verde e cor de laranja. A rapariga é ruiva.

Imagem.

Um cavalo a andar muito depressa.

Hum hum. Pensou muito, ou essa imagem veio-lhe espontaneamente?

Pensei bastante. Mas foi espontânea. Essa ideia de que a verdade é mais imediata é antiga, Dra. Complicado será aceder ao primitivo e exprimi-lo nesta nossa lógica. Não sei como hei-de dizer-lhe.

Já experimentou fazê-lo directamente?

Que quer dizer “directamente”? A partir do momento em que o exprimo deixará de ser directo. Queria que sentisse sem ter de lhe dizer. Sempre pensei que era óbvia, Dra. Gabava-me da minha transparência. Entretanto disse-me que eu era incompreensível. E compreender a minha própria incompreensão foi terrível. Tu devias ser ruiva, era o que me dizia. Nasceste para ser ruiva. Morena nunca irás ser compreendida. E bem sabe que todos temos este sonho que nos abarquem.

Porquê ruiva?

Talvez associe a cor ao fogo, e o fogo à luta. E a imagem do cavalo a correr bate certo, não? Estou pronta para uma sessão de psicanálise.Talvez seja má ideia, imagino a interpretação do cavalo a correr. Mas atenção Dra, apesar de tudo eu estava consciente. Não entendem eles que a angústia é natural, e que o facto de a afirmar me faz tranquilizar-me nela. E a luta pode ser alegre, imagina um fogo triste? A minha angústia é cor de fogo. E o cavalo do meu sonho é castanho, quase preto. Imagino que preto deva ser morte nos sonhos sonhados, afinal é uma sinestesia básica. Será esta uma angústia de morte?! Dra! Onde veio parar a associação livre! Devia chamar-se antes angústia de vida, mudava-lhe logo o significado e provavelmente deixaria de ser fonte de insónias. Mas descanse, porque a minha imagem tem verde, e cor de fogo, e ainda a Austrália, que não sei que cores terá, e cangurus. Sonhar com cangurus deve ser sinal de vitalidade, não? Sempre aos saltos…Vou terminar, Dra. Que isto da associação livre é muito cansativo, e estas cores todas confundem-me e eu hoje estou em modo controlador, preciso de alguma ordem. Pode terminar a dra? Custa-me tanta liberdade.

Daqui a duas semanas? Cá a espero, à mesma hora. Desta vez sem trabalhos de casa.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Este post não é sobre o Charlie Brown

O que estudas?

A histórias culturalmente disponíveis que as pessoas utilizam.

Que utilizam para quê?

Para dar passado e presente e futuro às suas vidas. Interessas-te realmente pelo que estudo?

Claro, caso contrário não perguntaria. Gosto tanto de ti. E diz-me, há muitas histórias?

Na base serão poucas. Mas claro, poderás inventar uma infinidade delas, se as combinares entre si. Porque gostas de mim?

Não sei. Gosto dessa tua forma de comeres os espinafres com queijo.

Não me digas que me babei a comer. Morro de medo que isso me aconteça.

Não. Julgo que é o prazer de estar que passa por ti. Estás aí.

Estou. Talvez por isso a Teresa goste tanto de me alimentar. Sabias que há pessoas que têm uma esquizofrenia numa língua e noutra não?

A sério?! Isso é tão giro.

Sabia que ias gostar. Achas que é porque os arquétipos culturais são diferentes? Utilizam outra forma de formatar o mundo?

Em que outro país gostarias de viver daqui a 10 anos?

Não sei…se fosse viver para o Japão ias visitar-me?

Claro. Nessa altura a distância impunha a necessidade de nos encontrarmos. Talvez fosse até uma forma de nos vermos mais. Come mais caril.

Não quero mais. É tão bom estar aqui contigo. Achas que lhes diga?

Para quê? E além disso é indiferente. Que saibam ou não.

Porque é tão bom? Tenho tantas saudades, agora que te ponho a falar comigo. Sabes que às vezes faço isto, só para me lembrar das saudades que tenho tuas. Prometo que me lembro de ti tantas vezes. Prometo até que falas comigo tantas vezes. E dizes disparates, e rimo-nos tanto os dois. Prometo que te dá saúde, porque não é possível que a quantidade de riso que te dou à personagem não te dê saúde. De vez em quando também falamos a sério, apesar de ser difícil. Ponho-te a falar comigo sobre arquétipos e assim, mas no fundo sabemos que nos estamos a rir e assim. Algumas pessoas, o João por exemplo, julgam tantas vezes que este meu ar interessado, peremptório, por vezes mesmo exaltado a falar de arquétipos e assim, que sou eu a pensar que eles existem mesmo, e põem-se a contrapor com outras palavras. Que não, que isto dos arquétipos não é nada como pensamos. E que angustiados que somos, caso contrário utilizaríamos outras palavras para estes estados, e falaríamos antes de outros assuntos, chatos dos psis. Não entendem eles que mesmo quando nós discutimos, quando discutimos assim alto os dois, que tu a discutir elevas um pouco a voz. Sabias? Porque também te ris alto, tinha de te dar coerência. Vês logo como é alguém pela forma como se ri, ou como não se ri. Não entendem eles que quando discutimos há um riso profundo que nos protege.