quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

A solidão é das piores coisas que existem...

Pois é. É um problema muito actual, a solidão na velhice.

Oh, não, estás enganado, não é só na velhice. É um problema dos novos também.

Como assim?

É verdade. Acho a população jovem adulta muito só. Estabelecem poucas relações, ou muitas mas pouco profundas. O que dá uma sensação de grande solidão. Bom, na generalidade dos casos, claro.

Sim, isso talvez seja verdade.

Precisamos uns dos outros. Não entendo esta tendência actual para negar isso.

Achas que há essa tendência? Bom, a verdade é que tens de gostar o suficiente de ti e de saber estar sozinho. Ou saberes quem és, independentemente dos outros.

Isso não existe.

Como não? Eu sou eu, não dependo de ninguém para ser eu.

Não é verdade. Tu és muitos eus. E não eras ninguém sem os outros, creio. A imagem que tens de ti vai-se formando com os outros, e não como algo à parte. Tu é que entendes como algo à parte, senão dar-te-ia uma sensação insuportável de falta de identidade. É assim, pelo menos no mundo ocidental actual.

Não entendo o que dizes. Eu sou eu, disso tenho a certeza. E não preciso de ninguém que me diga quem sou. Na verdade, pensando bem, não preciso de ninguém. Viveria bem sozinho.

Sorte a tua. Quando fores velho não terás problemas de solidão...

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Sabes, hoje estive a pensar. Esta vida são lutos uns atrás dos outros.

Sim, as pessoas morrem.

Não é só isso.

Como não é só isso?

A vida inteira. Já viste? Fazemos o luto pelos que morrem, pelos que não morrem mas é como se morressem, pelo que fomos, pelos ideais que tinhamos e se esvaziam, pelos lugares que ocupávamos e deixámos de ocupar, pelo que pensávamos que éramos e afinal não somos, pelos nossos sonhos, pelos nossos projectos, pelo que pensávamos que iríamos ser e não fomos e não somos. Dia após dia...

Sim. Mas como querias que fosse? Não fosse assim e continuarias igual ao longo da vida.

Será? Porque é necessário sofrer para crescer? E ficarás melhor e mais adaptado? Ou apenas mais duro, frio, distante?

Um pouco de distância é necessário. Não dizias outro dia que te sentias tão bem, como se sobrevoasses os teus sentimentos? Não conseguirias isso sem experiência. Não mudarias sem experiência.

E porque é que temos de mudar?

Tudo muda. Nós, as nossas relações, ainda que com as mesmas pessoas, o que pensamos sobre nós, os outros e o mundo. Conheces por exemplo algum casal que se mantenha que não tenha evoluido? Que não tenha passado por crises?

Mas PORQUÊ?

Não te lembras do filme? Aquele do Visconti, o Leopardo...Tudo muda, para que possa continuar tudo na mesma.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Já leste aquele livro, o Segredo?

Já li o suficiente.

O suficiente para quê?

Para me ter posto a pensar que tanta gente se sentiu movida por algo que é dito por psicólogos, psiquiatras, bruxos, astrólogos, etc etc, há tanto tempo, e de repente parece que descobriram algum segredo.

Como assim?

É verdade. Basicamente, as nossas crenças são profecias que tendemos a confirmar. O que sentimos e o que pensamos da vida tem a ver com a interpretação que fazemos dela, é essa interpretação. Se conseguirmos pensar que a nossa vida é positiva e que futuramente atingiremos os nossos objectivos, eles tendem a concretizar-se. Tendemos a confirmar as nossas crenças. Ainda que a realidade, ou a realidade vista por outra pessoa qualquer, pouco tenha a ver com o que vemos. Mas como o que importa é o que nós vemos...Isto em linguagem psicológica. Podemos pôr isto em linguagem de astrólogo, ou de bruxo, mas todos dirão a mesma coisa de outra forma. Energia positiva atrai energia positiva...e aí por diante

Então porque é que este livro causou tanto impacto?

Talvez porque as pessoas sentiram que afinal são todas iguais...e quando vão ao psicólogo não sentem, acham-se diferentes, estranhas, anormais...

E por se sentirem normais acreditam mais? Por ser para o público em geral?

Não, mas se um psicólogo te diz algo parecido, entendes como um processo terapêutico, não como uma filosofia de vida. Talvez. E porque ninguém liga ao que dizem os psicólogos e outros seres estranhos: coisa de doidos. Eles próprios todos doidos.

Hummm. E porque não considerar que foram os psicólogos e outros que tais que não conseguiram chegar a toda esta gente, ao contrário do que conseguiu alguém com um livro?

Sim, também é verdade. Mas espera-se dos técnicos pensamentos ditos "profundos", interpretações mirabolantes, do que pensamos, do que sentimos, do que dizemos, do que não dizemos, dos nossos sonhos, do nosso consciente, do nosso inconsciente. Não se espera o óbvio. A quem mudaria eu a vida se lhe dissesse, em consulta, que se conseguisse pensar de forma positiva tenderia a atrair coisas positivas?

No entanto, a quantidade de pessoas que já me disse que este livro mudou as suas vidas.

Exacto.

Humm. É confuso. Hoje não me levas.

Se calhar não fui suficientemente profunda.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

És optimista?

Depende. Em relação ao quê?

Em relação às pessoas.

Sim, pode-se dizer que sim. Sou crente no espírito humano. Mas há algo de paradoxal no que sinto em relação a isso.

Então?

Infelizmente, acho que a grande maioria das pessoas, pelo menos da nossa idade, é egoísta e amorfa.

Que queres dizer com amorfa?

Sentem pouco. Lutam pouco. Ou lutam muito, mas pelas coisas erradas. Dão pouco.

E porque achas que isso acontece?

Hummm, não sei bem. Uma grande insegurança, um grande medo. Medo de dar, medo de sofrer, medo, em geral, de viver. Medo de lutar e de não conseguir. E de se confrontar com isso. Talvez medo de "ser", e de constatarem que são tão pouco.

Não viverão melhor, essas pessoas?

Nos tempos que correm, não tenho dúvidas. Mas morrerão tão acompanhadamente sós...

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Relações

As relações são mesmo complicadas...

Pois são.

Oh, dizes isso, mas estás tão bem.

Bom, estou bem mas não deixo de saber que são complicadas. Se calhar exactamente por saber...E sabes lá se estou assim tão bem.

Não estás?

Estou. Bem, acho que sim. Tendo em conta o que vejo à minha volta.

Que inveja que tenho de ti. Como é que fazes?

Não sei bem...tens de tolerar, mas não demasiado. Tens de aceitar, mas não tudo. Tens de ser exigente, mas com medida. Tens de ser espontânea, mas não dizer tudo. Intensa, mas sem sufocar. Tens de estar no "nós", mas ser também "tu" sozinha. Tens de olhar com ele no mesmo sentido, mas não para ele. Tens de partilhar, mas não ser chata. Tens de ser generosa, mas nunca te deixares humilhar. Tens de fazê-lo sentir que é óptimo, ver o positivo, sobretudo quando discutes. Deves dar paz, mas não ser panhonha. Deves ser interessante, mas não mais que ele. Deves ser complexa, mas não complicada...

Complexo. Ou complicado, mesmo.

Pois é. Que inveja que tenho de ti.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Como se sente hoje?

Bem...estranhamente.

Porquê estranhamente?

Porque nada exteriormente mudou muito.

Pois, acontece. Talvez tenha mudado a forma como vê as coisas.

Talvez. Mas desta vez não foi um esforço consciente.

O que mudou na sua forma de as ver?

Bom...vejo talvez como estando distante de mim.

Como assim?

Como se fosse algo que se estivesse a passar a um outro nível. Como se a vida real estivesse num nível mais baixo, para a qual eu olhasse.

Engraçado. Como conseguiu fazer isso?

Não sei. Como lhe digo, não tem sido um esforço consciente. Primeiro passei por uma fase de análise, de interpretação. E hoje...essa análise mantém-se, mas mais distante. Como aqueles sonhos em que nos vemos de fora.

Mas a forma como vê é diferente?

A forma como entendo é a mesma, mas isso não provoca em mim os mesmos sentimentos de ontem, ou de anteontem. Olho simplesmente, sei que faz parte de mim, da minha história mas...eu não sou aquilo.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Expectativas...

Gostava de não criar tantas expectativas.

Cria muitas expectativas em relação ao quê?

A tudo. Em relação à minha vida...em relação às pessoas, em relação a mim...

Mas ter expectativas também é necessário, faz-nos perseguir objectivos, querer o melhor...

Sim, mas se as expectativas são muito grandes, os resultados deixam-me sempre frustrada.

Sim, se calhar não podem ser demasiado altas, mas será bom ou até possível não ter expectativas nenhumas?

Dizem os estudos que os povos mais felizes são os que têm expectativas de vida menores...mas também já vi alguns que diziam que era bom ter expectativas elevadas, exactamente porque se lutava mais pelo que se queria.

Pois...se calhar o ideal seria ter objectivos e exigências e lutar por elas, mas pensando que o resultado pode não ser o que esperamos. Porque, de facto, muitas vezes esse resultado não depende apenas de nós...

E há quem consiga fazer isso?

...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

A culpa

Sinto-me culpada
Humm, culpada de quê?
Pelo que me aconteceu
Mas porquê? As culpas são sempre divididas, de parte a parte
Pois, é o que me diz o psicólogo...mas que queres, não deixo de me sentir culpada por isso. E só significa que então sou mesmo culpada de alguma coisa
Culpada não, responsável...
Ya, ou isso
Mas sabes sobre o que és responsável?
Pois, esse é o problema. Sinto só. Mas racionalmente não entendo o que terei feito de errado.
Se calhar nada de errado. Fizeste só...da melhor maneira que conseguiste.
Não seria capaz de uma maneira melhor? É que esta não resultou.
Não quer dizer que não resulte futuramente. Aí entram outras responsabilidades. E tu também mudas.
Achas que mudei?
Claro.
A sério? Não quero repetir-me. Acho tão feio quando as pessoas se repetem...no mínimo, uma falta de imaginação. Não achas?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O passado

Achas que devemos revolver no passado?
No passado como?
No passado. Nas coisas importantes que aconteceram, não falam em traumas?
Humm, quer dizer, que entendes por traumas?
Sei lá, não é uma palavra bastante utilizada? Quando há qualquer coisa que te correu mal e te marcou, e não ficou resolvida.
Também não sei o que é isso de ficar resolvido. Se for viver em paz com isso, acho que sim. Mas há coisas que quanto mais falamos sobre elas menos elas se resolvem
Pois, isso acontece-me
Ou seja, realmente é importante sentirmo-nos bem com o nosso passado. Temos muita necessidade de compreender. Enfim, serve-nos para o futuro. Espero que sirva.
Sim, mas há coisas que não compreendes logo quando acontecem, não sentes isso?
Sim, há coisas que parece que só com a distância percebemos.
Nessa altura, achas bom remexer?
Não sei. Se sentimos essa necessidade, acho que sim. Sim.
Mas também acreditas que vem tudo da mãe, e assim?
Não
Então vem de onde? Quais são as razões?
São muitas, normalmente. Acho eu.
Então como faço? Para entender?
Hummm. Porque complicas...?
Eu...?

domingo, 3 de fevereiro de 2008

O porquê deste blog...e a primeira conversa...

A ideia deste blog surgiu certo dia, por pensar que gostava de partilhar algumas conversas. Com a ideia de que todas elas são, em algum sentido, terapêuticas. Algumas entre personagens diferentes, outras entre personagens dentro de personagens.

Como se sente hoje?

Triste, aliás como sempre, nos últimos tempos...

Mas atribui a essa tristeza alguma coisa em especial que lhe tenha acontecido?

OOhhh, sei lá. Tantas coisas que me têm acontecido

Humm...

De vez em quando sinto isto...não sei como hei-de sair deste vazio...depois há pequenos momentos em que me sinto tão estúpido por me sentir assim. Porque eu tenho coisas boas na vida

Que coisas?

Tenho amigos que gostam de mim, tenho família...

De facto são coisas muito boas. E nesses momentos, acha que há alguma coisa de diferente nesses momentos?

Bom, o meu pensamento. O meu pensamento está diferente. Mas não consigo perceber porquê nessa altura e não noutra

Há alguma altura dos dias em que isso lhe aconteça mais frequentemente?

Sim, quando estou quase quase a adormecer...Nessa altura embalo-me a pensar que boa é a vida, e que de certeza que no dia seguinte tudo vai ser diferente.

E depois, o que acontece?

Depois acordo.